O deserto à beira do Mar Morto (/Mar Salgado) |
«Eu não envergava vestes bordadas a ouro ou prata, nem mantos incrustados de pérolas, rubis ou esmeraldas. Os rabinos afamados e os doutores mais ilustres, os poderosos da sociedade, não acreditavam na minha identificação com Deus. Que blasfémia, que atrevimento, diziam uns aos outros. E crivavam-me de perguntas ardilosas para me desprestigiar.
As minhas atitudes abertas, destemidas, a minha piedade pelos impuros, a
minha predileção pelas crianças, o meu cuidado com os mais desprotegidos, não
os impressionava a meu favor. O meu carinho pelos doentes e a minha atenção aos
mais pobres, aos que eram perseguidos injustamente, abalava-os. A minha
preocupação com as vítimas da miséria e dos abusos do poder levava-os até a acusarem-me
de armar falácias. Escandalizavam-se. Os meus discípulos, alguns de aspeto um
pouco grosseiro e outros desconhecendo os modos pelos quais se regiam os
senhores de bom nome, peregrinavam comigo sujeitando-se aos comentários que os
atingiam, sem me abandonarem.»
Teresa Ferrer Passos, Jesus até ao Fundo do Coração (romance), 2016, pág. 244.
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