domingo, 29 de setembro de 2019

folhas no outono



o tempo de uma folha não tem memória.

nas raízes a saírem das árvores
tombadas entre os tempos
mortos de tanta espera, vejo o fundo.

tudo se mostra efémero e velho
como se fosse uma folha enrugada e seca.

há uma chuva ácida que alaga os rios
e eu procuro a sede infinita que já os define
na sombra das folhas a soltarem-se.

o que espero do outono do mundo?
o silêncio escrito nas folhas ressequidas.
Sinto que o tempo calou-se de súbito
e não sei se para sempre
  
29/9/2019
                         Teresa Ferrer Passos

* * *

A morte é um destino que devemos defrontar com a naturalidade das árvores que podem durar muitos anos, das folhas que morrem todos os anos. Olhar as folhas tão frágeis e tão inteiras enquanto existem, mesmo depois de se enrugarem e caírem e serem pisadas pelos nossos pés e arrastadas em fragmentos até ao nada... Como a natureza nos ensina a olhar a morte sem a rejeitar, antes a pensando como um bem que surge precisamente, quando a nossa presença aqui terminou.
   
1 de Outubro de 2019

T.F.P.

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