Cristo coroado de espinhos, pormenor da pintura de Dieric Bouts (1470) |
Ouço um silêncio perturbador
que vibra como um choro, o Teu choro.
Vejo-Te, ó Cristo, remetido para os alçapões.
O esquecimento procura não te encontrar.
Tu és o afrontamento, o risco rejeitado.
Escondem-te numa arte à porta do nada.
Essa arte feita de um só risco. Sem um sinal.
Apagam a Tua luz, ó Cristo da Paixão,
Tu que és a única via a sobreviver nos dedos da matéria.
Não querem encontrar-te nos templos abandonados
nem nas ruas das grandes cidades, a olharem-se
como se só elas fossem imortais.
Na contracapa, escondem o espírito. O Teu espírito.
A imagem és Tu, a de um Cristo triste de morte.
A imagem és Tu, proibida na capa das revistas.
Vejo-Te na contracapa, coroado de espinhos.
Eis a última homenagem dos teus discípulos.
Os teus discípulos de hoje, a Tua Igreja, aí está.
Quaresma, 31/3/2019
Teresa Ferrer Passos
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