Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) |
«De tudo houve um começo… e tudo errou…
− Ai a dor de ser quási, dor sem fim… −
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…»
Mário de Sá-Carneiro, Do poema «Quási» (Paris, 13 Maio de 1913) in DISPERSÃO – Doze poemas, 2ª edição, Edições Presença, 1939, p.48.
*****
Morte Consentida
Lá, longe da pátria, a morte é consentida!
Não. Aqui, não! Lá, a asa
quebrada
[contorce-se e não vive.
Pode partir, enfim. Aqui, nada
lhe
[escapa, tão pouco a vida.
A vida a começar. No seu corpo
[incorrupto?
[incorrupto?
Ora, morte sim, mas não
aqui!
Aqui, está a alma etérea e
viva.
Aqui, há perfumes alados de
mirra.
Aqui, a dor voa nas folhas
escritas,
a seguirem rumo á arte e à
vida!
Aqui, uma estrada de amor curva,
[cortada, mas com saída.
Lá sim, a morte é via. Lá sim, há
estradas
enormes entre ramos secos,
sem cor, pobres, vazios.
Lá sim, o encontro com a
morte.
Lá, uma estrada toda,
uma estrada cheia de névoas
opacas,
[frias, sufocantes.
26/Abril/2016 (1º Centenário da Morte de Mário de Sá-Carneiro)
Teresa Ferrer Passos
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixe aqui o seu comentário