segunda-feira, 16 de março de 2015

PÁSCOA/2015


«O espírito é que dá vida, a carne não serve para nada. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. Mas há alguns de vós que não acreditam»
                                                        Jo 6, 63


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A PÁSCOA DE S. FRANCISCO DE ASSIS




Guiado pelo teu louco amor por tudo
Penetraste o núcleo de dor da existência
Passando a porta estreita proposta por Jesus
Que te esperava lá
No centro de tudo
No cume do mundo
No centro de ti
No fundo desse abismo assustador
Que enlouquece aqueles que preferem não ter de o recordar

Voltaste trazendo as Santas Chagas
A marca da Verdade sobre a carne
E a certeza de que o segredo desvairado
Que o Mestre dos Mestres ensinara
É bem mais certo que o mais sensato teorema:

Renunciar a tudo é ter o mundo inteiro

19/3/2015

                         Fernando Henrique de Passos


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AS PRIMÍCIAS DA PALAVRA

Igreja de S. João de Gatão, Amarante

«A Verdade é aquilo em que nós acreditamos.»
Teixeira de Pascoaes

                                                   (convoco, para a Musa-Madre, o 10 de Copas Arcano)

Q' rido Sol, a ser essénio,
O meu Cristo é só d' Amor.
Sou do Espírito e convénio,
É da Paz o Bom Pastor.

E se o Verbo, irmão, te inspira,
Se é da quadra uma quimera,
Sou do Espírito e a Lira,
É da Páscoa a Primavera.

Se o mar é barca, e Maria,
Se é da Paz, d' Iria Cova,
Sou do Espírito, e da Via,
É da Páscoa a Boa Nova.

E se a Mena doura e dança,
Se é da loura, lis e lais,
Sou do Espírito e a Esp'rança:
É da Páscoa Pascoaes.

Queluz, 19/ 03/ 2015

AD MAJOREM DEI GLORIAM

                     Paulo Jorge Brito e Abreu


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A DESCRENÇA CRIADORA DA FÉ



«O apóstolo Tomé, à vista do Ressuscitado, terá sido realmente liberto, para sempre, de todas as suas dúvidas, ou, pelo contrário, ter-lhe-á Jesus mostrado, "pelas suas chagas", o único lugar em que aquele que busca e o que duvida podem efetivamente "tocar Deus"?»

«Jesus identificou-se com todos os pequeninos e com os que sofrem – assim todas as feridas dolorosas, todo o sofrimento do mundo e da humanidade, são «as chagas de Cristo». Crer em Cristo, poder dizer «meu Senhor e meu Deus», só posso fazê-lo se tocar nestas suas feridas, de que também o nosso mundo está, hoje, cheio.»

«Onde tu tocares no sofrimento humano – e talvez só aí! – ficas a saber que eu estou vivo, que «Eu sou». Encontras-me por toda a parte onde os homens sofrem.»


Tomás Halík, O Meu Deus é um Deus Ferido, Paulinas Editora, 2015.


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A PÁSCOA DAS CRIANÇAS INOCENTES  
  

À beira da Cruz agitam-se frases infames.
O desdém sobe até às divinas tábuas.
É a Cruz com uma nova Páscoa
para as crianças desfalecidas de mágoa.
Os seus braços largos estendem-se
ao  verem os malvados derrubar a criança.

As mãos impuras incendeiam as suas faces.
Uns levantam-se e querem livrar
os inocentes das mãos dos malvados.
Outros, defendem o seu 'bom nome',
os desvarios já foram castigados.
A Cruz dá os longos braços.

Mas as crianças inocentes não lhes chegam.
Os pequenos bracinhos temem
as investidas dos malvados.
E a serena Cruz escuta, abismada.
“As crianças inocentes não valem
mais do que os malvados, estes
devem ter novas oportunidades”.

As palavras confundem a Cruz que oscila fundo.
Estremece. As tábuas vergam.
Vive-se uma densa escuridão.
O silêncio parece eterno.
O abandono é visível.
Os braços da Cruz em pedaços, caem por terra.
Desmorona-se. Como pode oferecer os seus
braços às crianças inocentes?

E desfalecida, a Cruz ainda consegue escutar.
“Que importa defender as crianças inocentes?
Para que servem? O corpo desfigurado.
Mutilado. Se ainda não são pessoas crescidas,
que importa vê-las perigar?”
Então, as crianças inocentes veem
um braço da Cruz a elevar-se.
E ouvem estas palavras:
“Importa, sim. São puras. Basta”.

15 de Março de 2015
                                    Teresa Ferrer Passos


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O QUE ESTÁ PARA VIR


«"Redivivo. E foi por essa mínima palavra que apareceu não/ se sabe o quê que arrancou/ à folha e à esferográfica canhota a poderosa superfície/ de Deus, e assim é/ que te encontraste redivivo, tu que tinhas morrido um momento antes,/ apenas"» (Herberto Helder, Ou o Poema Contínuo, 2001,p.126)

«Redivivo. Foi por essa mínima palavra que fui reler o penúltimo versículo do Antigo Testamento e aprender, em comentários da apocalíptica judaica, que redivivo é «o que está para vir», o que há de apascentar, da opacidade à luz, os corações.

E que, depois, cheguei a um dos primeiros textos cristãos, o Evangelho de Lucas, sobre o qual passo os dias a trabalhar, para descobrir também aí, nesse texto que está, afinal, tão perto de mim, a palavra redivivo.

Para minha surpresa era a interrogação que João Batista mandou, por emissários, colocar a Jesus de Nazareth: "És tu o redivivo?". Não sei de pergunta mais bela que um homem tenha feito a outro homem.»

                  José Tolentino de Mendonça (in Internet, Pastoral da Cultura, publicado em 24/3/2015)

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S. BENTO À PROCURA DE CUMPRIR JESUS CRISTO


S. Bento da Porta Aberta, Santo Tirso

O Santuário de S. Bento da Porta Aberta foi elevado a Basílica Menor, hoje, dia 21 de Março, pelo Papa Francisco, data em que se comemora o dia da morte de S. Bento. Proclamado Padroeiro da Europa, em 1964, por Paulo VI, foi o autor da célebre expressão «Ora et labora» («Reza e trabalha»)
De facto, para S. Bento (480-547), «o trabalho não é um puro exercício ascético, a não ser que conserve o seu próprio valor como meio de produção utilitário. Com o trabalho não se pretende a mortificação do corpo, mas fazer do mosteiro uma unidade económica capaz de satisfazer a maior parte das necessidades da vida. Por isso, é o trabalho manual bem organizado, atendendo às pessoas, aos lugares e às necessidades e ocupa a maior parte das horas do dia monástico. (...) O mosteiro beneditino não pretende mais do que ser a realização da comunidade cristã ideal». («Introduccion General», in San Benito Su Vida y su Regla, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1968, pp.110 e 140) 
“Quem passar por aqui deve levar este encargo de mostrar que o "ora et labora" tem alguma coisa a dizer ao dia-a-dia das pessoas”, afirmou D. Jorge Ortiga, bispo da diocese de Braga, referindo-se ao lema de S. Bento e à sua pleno atualidade.
Deste modo, neste tempo de Páscoa de 2015, se recorda, em Portugal, a capacidade inovadora de Bento de Núrcia, ao elevar-se um dos santuários que, na Europa, lhe é consagrado, à dignidade de Basílica.
Que a obra de S. Bento, a expandir-se, desde o século VI, com a fundação de numerosos mosteiros por toda a Europa (desde a primeira fundação no Monte Cassino em Itália), seja o dinamizador de uma nova civilização mundial, assente na fraternidade cristã e na paz (lema da Ordem Beneditina).
Que a nova civilização que urge erguer, possua, como possuiu no pensamento de S. Bento, uma dinâmica condutora ao respeito pelos valores espirituais que Cristo transmitiu, sem perder de vista a importância que a produção económica contem para todos os homens. 
T.F.P.
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A ETERNIDADE ESTÁ FORA DO MUNDO TEMPORAL



«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por Minha causa, salvá-la-á. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, perdendo-se ou condenando-se a si mesmo?»
                                                           Lc 9, 23-25



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VIA SACRA




Que saco!
Resmunga o cidadão,
Agendando a correção
De um erro que não foi seu.

Oh! Meu!
Murmura o consumidor,
De volta ao vendedor
De um aparelho que pifou.

Qualé, m’ermão!
Diz um jovem a outro gajo,
Na recusa do bagulho,
Hoje, em dia, em cada esquina.

Santo Deus! Mas que rotina,
Mais uma Semana Santa,
Cada vez com menos dias,
À vida santificada.

Eis-me, aqui, Senhor,
À Vossa disposição,
Este humilde servidor,
Ainda na flor da idade.


                       Luiz Martins da Silva (Brasília, Brasil)


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BOA PÁSCOA
aos leitores do nosso Blogue!

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