sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Pelos interstícios do código de barras


Estereo-rostos nas sombras do jardim
Ninfas atrás de códigos de barras
Produtos perfilados prateleiras
Suspensas em arbustos musicais
Flautas de Pã nas bocas dos polícias
A violência cega dos faunos na torrente
A água cintilante
O ininterrupto fluxo interrompido
Pela avaria voraz do conta-gotas

O medo materializa-se como estereo-cobras
Enroscadas nas pernas das sereias
No overflow das caixas que registam
Os sonhos das raparigas que as operam
E filas de pacotes em forma de fabrico
Retardam a luta corpo a corpo
E a azulada luz néon da noite
Incendeia os eléctricos cabelos
E provoca a tempestade mansa
Dos cereais do desayuno
Num curto-circuito dos horários
E as labaredas lambem o langor das brumas célticas

(Quase ao acaso: a lógica do tudo.
O excesso de ordem de Descartes
Perturba Bachelard: Quase ao acaso.
A lógica do tudo: totalidade de nadas e crepúsculos
As folhas arrancadas
Calendários-pétalas-corolas
Curto-circuito dos horários
Binóculos nas margens da lagoa)

Sorrisos de ninfas sobre as caixas
Sobre embalagens e pacotes
Sorrisos suspensos das registadoras
A névoa néon da rega sobre a relva
Os corpos lânguidos e frescos
As peças do puzzle boiando à tona-lago
Estereo-olhos fixos nos nenúfares
E o longo corredor estereotipado
Límpido e pétreo ‒ eternidade
Com sonhos lívidos trepando às prateleiras
E trocando néctar e ambrósia
Pelos cereais do desayuno

20/9/2012

Fernando Henrique de Passos

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