terça-feira, 18 de junho de 2024

ETÉREO POETA


                           A Luís Vaz de Camões,
                           no V Centenário do seu Nascimento


na incerta data celebramos Camões com arte branda. 
Com que arte, nós aprendizes de poesia,
nós que nos achamos vates e somos insignificantes,
nós apagados da certa palavra,
nós cheios de vãs eloquências,
nós com os louros a ofuscar-nos a visão?
nós, a olhar o mestre, nós, relendo o genial poeta,
aquele que já cruzava os mares tumultuosos
da poesia maior insubmissa sem rival,
bem dentro das entranhas de sua enternecida mãe.
Nós, aqueles que lhe queremos suceder neste século.
Nós, a crivar as artes do imaginoso humano
com o fantasma da novidade, tremenda e amesquinhante
inteligência só rica em artifícial moldura?
Luís Vaz de Camões, tríade auspiciosa
a vibrar melodiosos hinos e louvores
numa voz sonorosa e ardente como fogo.
A escrever a esplêndida oratória sobre a história 
fulgurante destes a quem chamou Os Lusíadas,
herdeiros dos ousados Lusitanos.
Camões, o século de Quinhentos atravessou
com estudo vastíssimo, 
sua força de alma seguindo sem cansaço,
tudo assente no apego à terra estreita mas luminosa,
a vislumbrar as águas transparentes
de um rio de tantas brumas,
o Tejo, esse rio maior, a penetrar o além,
marítima frente de impiedosas ventanias.
Toda a vasta distância se encurtava
nas correntes imprevistas ante a vontade de vencer 
a pequenez da terra, a pobreza da mesa,
o destino parco e ignoto de todo um povo.
Camões, com a beleza nos olhos perturbante,
espraiou-se pelo vasto mundo
de construções honrosas ainda incertas,
deixou como alto e único testamento  
uma memória de pátria,
pátria só por amor movida,
grande e inteira, poderosa e leve,
quase escondida da Europa
de olhar turvado pela discórdia.
Rompendo  as ondas maiores,
os Lusíadas venceram o Atlântico e o Índico,
mares longuíssimos.
Com hostilidade e sangue recebiam as caravelas
e as naus imprevidentes.  
Que terrível desconfiança dos Lusíadas,
dos icónicos marinheiros,
gente jovem e alegre que desconheciam
e por isso mais temiam.
Na espera de caminhos promissores,
acreditando mais nestes que nos nefastos, 
Camões deixou escrita a gesta
dos seus feitos valorosos:

Qual gente Lusa  capaz de abrir as portas
de um mundo fechado sem saber.
E os navegantes da pequena 
terra de silvados serpentes e montículos,
embarcavam em navetas com velas vestidas de obstinação. 
Partiam  do suave Tejo.
A lusa pátria antiga Portugal se chamava
e circum-navegando a África imensa
o Oriente Extremo, a China grandiosa, tocaram.


10 de Junho de 2024

                                     Teresa Ferrer Passos

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