NAS SERRANIAS
DE ODEMIRA
«Acendeu-se um fogo;
mas o Senhor não estava no fogo»
1º RS, 19,12
Há um crepitar ao longe, vago o horizonte.
A ardente terra nada procura nem deseja
nas extensas colinas.
Ali nada há além da paz do lugar.
O cheiro a madeira queimada torna o ar ácido.
Ali, um rosto de criança é um rosto de espanto,
não entende um real a esbracejar delirante.
Imóvel, abraça o tronco negro de um carvalho
já sem folhas e de ramos contorcidos pela dor muda.
E abraça-o como se fosse o colo doce de uma mãe.
Vê os ramos dos pinheiros acesos a parecerem
tochas gigantes em louca procissão vazia,
sem Deus, sem santos milagrosos,
sem alguém a passar com um andor, um hissope
ou uma simples custódia redentora.
E a fé feita de sombras fumegantes,
encobre as ovelhas no aprisco com o som
dos chocalhos confiantes na vida.
Elas balem com ternura.
Não veem a sarça ardente
em que caíram quando o fogo as abate
como vento a vir de um simples sopro.
Teresa Ferrer Passos
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