quarta-feira, 30 de agosto de 2023

PERCURSOS VAGOS



CAMINHANDO 


vivo numa precariedade de caminhos.
em cada caminho erguem-se trilhos estreitos
que confinam com outros mais pequenos e frágeis.
no caos da vida as escolhas são um impossível.
não nos deixam um traço de liberdade.
até a água que sugamos como se fosse um néctar
acalenta só por instantes. E estes escorrem
num tempo mínimo  pontos de interrogação
e reticências que esmagam o devir.
as ruas infestadas de vento
cortam cerce o meu olhar vago
a enevoar-se ante a olaia tombada
no chão num extenuamento de folhas.
perplexa olho a indiferença das folhas dos plátanos
com sinfonias vindas de uma força arrasadora.
sigo o caminho carregada com a incerteza
a transformar a abundância ainda visível
em perda anunciada.
a verter o destino numa realidade delirante
vejo nascerem rios de sombra e de canícula.
transmudam-se em grãos de areia 
e zarpam para um caos horribilis desmembrado.
o instável ganha forma e perco-me nos instantes 
sem encontrar a estrada a delir-se com lentidão.
caminho ainda. devagar entre ervas ruins
incapazes de abafar o vento. devagar respiro
aquele vento que passa ignorando-me. o vento.
sobre as minhas interrogações nada augura
senão um vazio largo ou uma aridez parca.
resta um pantanal inscrito além.
penetro a lama. aí o lugar indecifrável 
onde dormem há muito
os meus caminhos apenas enunciados.

30 de Agosto de 2023

                                      Teresa Ferrer Passos

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