quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Sob a negrura dos céus, a nívea espuma das marés a caminho da terra.
T.F.P.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

PERCURSOS VAGOS



CAMINHANDO 


vivo numa precariedade de caminhos.
em cada caminho erguem-se trilhos estreitos
que confinam com outros mais pequenos e frágeis.
no caos da vida as escolhas são um impossível.
não nos deixam um traço de liberdade.
até a água que sugamos como se fosse um néctar
acalenta só por instantes. E estes escorrem
num tempo mínimo  pontos de interrogação
e reticências que esmagam o devir.
as ruas infestadas de vento
cortam cerce o meu olhar vago
a enevoar-se ante a olaia tombada
no chão num extenuamento de folhas.
perplexa olho a indiferença das folhas dos plátanos
com sinfonias vindas de uma força arrasadora.
sigo o caminho carregada com a incerteza
a transformar a abundância ainda visível
em perda anunciada.
a verter o destino numa realidade delirante
vejo nascerem rios de sombra e de canícula.
transmudam-se em grãos de areia 
e zarpam para um caos horribilis desmembrado.
o instável ganha forma e perco-me nos instantes 
sem encontrar a estrada a delir-se com lentidão.
caminho ainda. devagar entre ervas ruins
incapazes de abafar o vento. devagar respiro
aquele vento que passa ignorando-me. o vento.
sobre as minhas interrogações nada augura
senão um vazio largo ou uma aridez parca.
resta um pantanal inscrito além.
penetro a lama. aí o lugar indecifrável 
onde dormem há muito
os meus caminhos apenas enunciados.

30 de Agosto de 2023

                                      Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

FRAGMENTO 3



FRAGMENTO 3


«"O melro, eu conheci-o:
Era negro, vibrante, luzidio,
Madrugador, jovial;
Logo de manhã cedo
Começava a soltar, d'entre o arvoredo,
Verdadeiras risadas de cristal.
E assim que o padre-cura abria a porta
Que dá para o passal,
Repicando uma finas ironias,
O melro, d'entre a horta,
Dizia-lhe:'Bons-dias!'
E o velho padre-cura
Não gostava daquelas cortesias." [...]


Do Poema "O Melro" de Guerra Junqueiro (no 1º Centenário da sua morte) in Henrique Manuel Pereira, «Paisagens Junqueirianas com o Douro ao Fundo», Edições Húmus, Vila Nova de Famalicão, 2023, pág. 215.

sábado, 19 de agosto de 2023

FRAGMENTO 2

Luzula purpúreo, flor nativa dos Açores



«Tal como deixamos de sentir o rosto do outro, em carne e osso, ocultado no anonimato das redes digitais, também os elementos vitais deixaram de merecer a nossa procura sensível, a habitação pausada e a lentidão do pensar.»

João Paulo Costa, "À sombra do Invisível", Documenta, Lisboa, 2020, p. 36.

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Quem poderá escapar às cruezas da vida?  Resta a consolação do amor que está dentro de nós.
Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

FRAGMENTO 1


Vidália (Vidalii azorina),
flor nativa dos Açores


«Espantar-se com tudo o que volve e nos envolve, é exercitar cuidadosamente a atenção, gozar do inesperado presente nas coisas mais insignificantes e até adversas».

João Paulo Costa, "À sombra do Invisível", Documenta, Lisboa, 2020, p.32.


sábado, 12 de agosto de 2023

UM POEMA

 

NAS SERRANIAS DE ODEMIRA


«Acendeu-se um fogo;
mas o Senhor não estava no fogo»
                                                1º RS, 19,12 

 

Há um crepitar ao longe, vago o horizonte.
A ardente terra nada procura nem deseja
nas extensas colinas.
Ali nada há além da paz do lugar.
O cheiro a madeira queimada torna o ar ácido.
Ali, um rosto de criança é um rosto de espanto,
não entende um real a esbracejar delirante.
Imóvel, abraça o tronco negro de um carvalho
já sem folhas e de ramos contorcidos pela dor muda.
E abraça-o como se fosse o colo doce de uma mãe.
Vê os ramos dos pinheiros acesos a parecerem
tochas gigantes em louca procissão vazia,
sem Deus, sem santos milagrosos,
sem alguém a passar com um andor, um hissope
ou uma simples custódia redentora.
E a fé feita de sombras fumegantes,
encobre as ovelhas no aprisco com o som
dos chocalhos confiantes na vida.
Elas balem com ternura.
Não veem a sarça ardente
em que caíram quando o fogo as abate
como vento a vir de um simples sopro.

 12/8/2023

                                 Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

 



A MENINA QUE GOSTAVA DE FLORES


                                à Teresa, no dia dos seus anos



A menina gostava de flores
Como quem gosta do que é belo e passageiro.
Gostava das cores,
Das formas e do cheiro.

A menina gostava de capelas
Como quem gosta do que é eterno e puro.
Gostava da paz que havia nelas
E daquela luz entre o claro e o escuro.

Tudo era paz na alma da menina
Mas à sua volta havia guerra,
Que neste mundo quem reina e quem domina
É Satanás, o Imperador da Terra.

Foi má a vida para a menina boa,
Pouco abonada pela sorte.
Tudo são espinhos onde ela se magoa
Mas com a dor se faz sempre mais forte.

Surgiste-me, menina, no caminho
E és desde então a minha amada.
Magoa-te há trinta anos mais um espinho,
O da minha mente atormentada.

Mas eu bebo da tua paz antiga,
Que pouco a pouco vence qualquer mal,
E pouco a pouco, contigo, minha amiga,
O meu tormento está perto do final.

O segredo de tudo está na paz
E a raiz da paz é o amor.
Juntos venceremos Satanás,
Amada minha, menina sempre em flor…

9/8/2023
                            Fernando Henrique de Passos

domingo, 6 de agosto de 2023

Na missa do Envio no Parque Tejo em Lisboa (6/8/2023) disse o Papa Francisco a um milhão e meio de jovens, vindos de todo o mundo:

 

Parque Tejo em Lisboa, última missa do Papa Francisco na JMJ em 6/8/2023

«Hoje nós precisamos de alguma luz, um raio de luz que seja, esperança para enfrentar tantas trevas que nos assaltam na vida, tantas derrotas cotidianas para enfrentá-las com a luz da ressurreição de Jesus, porque Ele é a luz que não se apaga, é a luz que brilha também à noite.»

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Na cerimónia de acolhimento à JMJ no Parque Eduardo VII, em Lisboa (3/8/2023), algumas passagens da notável Homilia proferida pelo Papa Francisco:

 «Nenhum de nós é cristão por acaso. Todos fomos chamados pelo nosso nome. Ao princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, das sombras e feridas que carregamos dentro de nós, recebemos um chamamento. Chamados, porque amados. Fomos chamados porque somos amados. Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar e encorajar»

JMJ no Parque Eduardo VII em 3/8/2023


«Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. Isto di-lo Jesus claramente quando manda os apóstolos a chamar para o banquete do senhor que o tinha preparado — vão e tragam todos.»

«Deus ama-nos como somos, não como a sociedade gostaria que fôssemos. Como somos. Ama-nos com os nossos defeitos, com as limitações que temos e com a vontade que temos de seguir em frente na vida. Deus chama-nos assim. Confiem, porque Deus é pai, que nos ama.»

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Na Oração de Vésperas celebrada na Igreja dos Jerónimos (2/8/2023), em Lisboa, disse o Papa Francisco:

 

Igreja dos Jerónimos em Lisboa J L

«(...) Somos chamados a lançar de novo as redes e a abraçar o mundo com a esperança do Evangelho. Não é momento de parar e desistir, de atracar o barco à margem nem de olhar para trás; não devemos escapar deste tempo, só porque nos mete medo, para nos refugiarmos em formas e estilos do passado. Não! Este é o tempo da graça que o Senhor nos concede para nos aventurarmos no mar da evangelização e da missão (...)»

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

BEM VINDO A LISBOA, PAPA FRANCISCO!



Papa Francisco no Palácio de Belém
após a sua chegada a Lisboa


A sua presença, nesta hora, lembra-nos as palavras escritas por P. Teilhard de Chardin no seu livro «HINO DO UNIVERSO»:

«O meu cálice e a minha paterna são as funduras de uma alma largamente aberta a todas as forças que, dentro de um instante, se elevarão de todos os pontos do Globo e convergirão a caminho do Espírito. - Venham a mim a recordação e a presença mística daqueles que a luz desperta para uma nova jornada!»