ALÉM, MAIS ALÉM
In memoriam de migrantes desafortunados
Barcaças vogam devagar nas ondulantes águas.
Sentem-se irmanadas com aquelas gentes pobres
que nelas um caminho veem. O sol brilha.
É fogueira acolhedora. E as estrelas
quando este brilho se esvai de cansaço,
oferecem-lhes o seu vigiar no escasso sono.
Sentem-se irmanadas com aquelas gentes pobres
que nelas um caminho veem. O sol brilha.
É fogueira acolhedora. E as estrelas
quando este brilho se esvai de cansaço,
oferecem-lhes o seu vigiar no escasso sono.
A luz esplendorosa da aurora abre-lhes os olhos.
Uma esperança sorri nos seus lábios ressequidos.
Uma glória imensa habita as suas faces húmidas.
A livre fuga cresce com o sal que a boca suga.
As mãos em prece a orar sentem o afago
da promessa mesmo sem sinais no horizonte.
Não se vislumbra a espuma nas praias longas.
Não se avistam dunas com vegetação a abundar.
E há arcas de esperança em cada um dos seus
cabelos longos que esvoaçam ao vento
como se cavalgassem num ginete ágil que vencerá.
Estão cada vez mais distantes da fome,
do desprezo, da vingança, do desdém, da morte.
Esqueceram a sofrida vida. Tudo enterraram
na terra do nada em que deambulavam
jovens, quais vermes cegos de vontade.
Que viagem afortunada, acreditam.
A chegada coberta de futuro, vislumbram.
Que coroas de bendito destino na terra próxima, avistam!
Perto demais! Em pleno mar, veem os contornos das arribas.
Num olhar subtil, começam a louvar os deuses
ao verem colinas cobertas de vinhedos. Que olivais sem par!
Que pastos férteis! Quantos animais nos penhascos!
Não se avistam dunas com vegetação a abundar.
E há arcas de esperança em cada um dos seus
cabelos longos que esvoaçam ao vento
como se cavalgassem num ginete ágil que vencerá.
Estão cada vez mais distantes da fome,
do desprezo, da vingança, do desdém, da morte.
Esqueceram a sofrida vida. Tudo enterraram
na terra do nada em que deambulavam
jovens, quais vermes cegos de vontade.
Que viagem afortunada, acreditam.
A chegada coberta de futuro, vislumbram.
Que coroas de bendito destino na terra próxima, avistam!
Perto demais! Em pleno mar, veem os contornos das arribas.
Num olhar subtil, começam a louvar os deuses
ao verem colinas cobertas de vinhedos. Que olivais sem par!
Que pastos férteis! Quantos animais nos penhascos!
Lentamente, a barcaça, apinhada demais, começa a empinar.
Uma onda incauta desequilibra o instável equilíbrio.
E sucumbem, sucumbem sem socorro.
Agora sabem que ali tão perto a costa grega os renega
e, indiferente, sepulta as pobres gentes na esmeralda água.
Agora sabem que ali tão perto a costa grega os renega
e, indiferente, sepulta as pobres gentes na esmeralda água.
25/6/2023
Teresa Ferrer Passos
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