ABAIXO DOS 20 Hz
A sul do sol, a norte da largada,
O bando migratório rompeu em mil grasnidos
E o eco sideral da paz dilacerada
Chegou aos meus ouvidos.
Respondi por meio do meu pardal-correio
Mas o pardal não alcançava o bando:
Por mais que andasse ficava sempre a meio
E foi desanimando.
O bando agora já deve estar bem perto
Do oceano da luz imperecível.
Eu fico longe, mas fico mais desperto
Para os sinais abaixo do audível.
Fernando Henrique de Passos, "Ecos Abaixo do Audível", Hora de Ler, 2020, p.28
Comentário de Teresa Ferrer Passos no Facebook:
De novo a Física na arte poética. Este poema inclui-se na 1ª parte do livro ("Cortando um por um todos os nós") em que Fernando Henrique de Passos reune os seus poemas de temática científica escritos nos últimos sete anos. A sua poesia de inspiração científica lembra-me Vitorino Nemésio e o seu livro de poemas «Limite de Idade» publicado em 1972 ou António Gedeão e o seu livro «Máquina de Fogo» de 2006, onde incluiu o poema "Máquina do mundo" de que cito estes versos:
"O universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria."
O esplendor da maravilhosa natureza e dos seus fenómenos, a que os gregos chamavam "Physis" (Fisica), uma fonte riquíssima de "poiesis", ou seja, de criação...
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