sábado, 20 de outubro de 2018

LOAS E LAIS A FERNANDO PESSOA



Uma pintura de Júlio Pomar (Fernando Pessoa, 1985)  

( invoco, para a Musa minha, o Ás de Paus )

                            I

Eu leio, até ao lai, tua Poesia
Que legaste a nós outros, e ao Graal,
Modernista do Verbo e da estesia,
Maravilha da «Ode Triunfal».

Guardador de rebanhos e palavras
Que foram qual abraço e qual o Hermes,
Da Rosa, verde lenho e verdes águas,
De ingénitas, irónicas e lemes,

Tu lias, ao crepúsculo, o experto
Cesário sentimento nosso Mestre,
E eu leio, ao lusco-fusco, o «A» de Alberto,
Que é símil ao Pastor e ao silvestre.

Se a sêmea foi «Orpheu» numa Lisboa,
O sémen é Infante que apaixona;
Se lúdica é a barca, ó tu, Pessoa,
Ajuda-me a trovar uma «Persona».

                       II

Marítimo é o viático ou viagem
Nas Índias duma nave mais etérea,
Que a Musa tem a gema, e, na «Mensagem»,
A mente vai agir sobre a matéria.

Em Gólgota glosavas a semente,
Em Crânio cavalgavas esse potro;
A mântica era a meta, e tua mente,
O discurso d’amável e do Outro.

Que eu sinto, meu Amigo, o teu exemplo,
Coas tábulas falando o magistério:
Se a forma de Ulisseia é tal e templo,
Descubro, na Palavra, o Quinto Império.

                           III

E, se a gema do Mestre é sal e pão,
Se «Opiário», foi alucinogénio,
Não façam, só da «pólis», a prisão,
Não matem, outra vez, o verde Génio.

Lisboa, Janeiro de 2004

MENS AGITAT MOLEM

                           Paulo Jorge Brito e Abreu

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