sábado, 31 de agosto de 2019

Na morte de Carlos Carranca


Carlos Carranca já doente

Carlos Carranca, o grito imenso da ternura

O Carlos Carranca era a generosidade pura, nada era premeditado, tudo saía dele com uma naturalidade impressionante! O bem vivia nele, sem querer apenas parecer. Ele era aquilo a que podemos chamar a própria fraternidade. Ele era uma alma aberta de par em par, sempre pronto para nós e sem esperar nada de nós! A sua abertura ao próximo era toda feita de autenticidade!
E como é difícil, no nosso tempo, tão apressado, tão indiferente, tão mesquinho, conhecermos uma personalidade como a de Carlos Carranca, com um tesouro no coração todo feito de bem. Quanta dádiva não lhe agradecemos, quanta lembrança esquecemos, quanta ausência não lhe oferecemos? Como é difícil retribuir tudo quanto nos deu, tudo quanto pôs no nosso regaço, nas nossas mãos desabituadas a que nos dêem seja o que for, desabituadas da força da solidariedade, já mesmo sem esperar o impulso da fraternidade.
O silêncio é a morte. Silencioso agora. Estranhamos. Como pode ser isso? As suas palavras escondem-se de nós, com certeza. O seu sorriso terno deixa de ser visto. Mas a sua transparência, cheia de irreverência, vive em nós, e, o seu eu cresce estilhaçando os nossos ouvidos. Deixámos de o ouvir, mas o som dos seus gestos bons ecoa em nós, como se nos dissesse ainda: Onde estão? Eu, estou aqui!

Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 30 de agosto de 2019


UM HOMEM BOM

                   À memória de Carlos Carranca 

sempre que morre um homem bom 
a terra fica mais pobre

a água dos rios abranda os seus ímpetos
os oceanos perdem um pouco da sua frescura 
o sol tem um brilho menos intenso 
e a terra estremece de susto

mas o céu, esse, eclode de alegria

um anjo assoma à sua porta
um novo ser cheio de vida
novíssimo como uma criança

a oferecer-lhe o seu maior tesouro
a sua centelha de bem.

30/Agosto/2019 

                                               Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

À memória de Carlos Carranca


«ORAÇÃO»
dedicado a Miguel Torga,
um poema de Carlos Carranca publicado
na «Gazeta de Poesia do Mundo de Língua Portuguesa»
Especial Torga/Número 5, 1995, pág.67:

«- Liberdade... reza o Poeta
E na oração
os deuses que são homens
e mulheres,
de pé, braços no céu,
velam pela terra.»
*
Aqui re-publico, numa pequena homenagem a Carlos Carranca, este poema «Oração» da sua autoria, que hoje mesmo tinha publicado na sua página do Facebook, seis horas antes de saber do seu falecimento.

29 de Agosto de 2019
Teresa Ferrer Passos*

* Foi Carlos Carranca que me propôs a ideia de um número especial da revista ser dedicado a Miguel Torga, recém-falecido, e a própria capa da autoria do pintor Isolino Vaz, foi uma escolha sua.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

28 de Agosto de 430 - No dia da morte do filósofo e teólogo Agostinho de Hipona


Santo Agostinho e a Mãe de Deus:

Santo Agostinho considera que Maria é um «molde de Deus». Assim, encontrado um molde perfeito, pela carne de Maria e pelo Espírito Santo de Deus, Jesus ganhava a sua humanidade e não perdia a sua divindade. E Deus nasceu para Salvar a humanidade, conhecendo-O e seguindo-O.

        Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Plantemos árvores




A atmosfera é largíssima e mesmo que alguns dos grandes pulmões florestais do mundo desaparecessem, haveria sempre as árvores de fruto, os vegetais, as flores, a tundras, as plantas rasteiras, a erva... e o mar que possui oxigénio para alimentar a fauna e a flora marinha, uma reserva para a humanidade. Plantar árvores, muitas, mas pequenos bosques, serrados, espaços para produção de madeiras, ao lado de zonas de cultivo alimentar, legumes, pomares e silvados para o gado... Quanto há a fazer para evitar grandes incêndios florestais de dimensões imensas e em lugares inacessíveis, por isso, incontroláveis!
26/8/2019
T.F.P.

domingo, 25 de agosto de 2019

O fogo e o mundo a cruzarem os seus caminhos sem saída

O fogo que tem salpicado Portugal, um pequeno pinhal à "beira-mar plantado", nos últimos anos, é um entre todos os fogos que salpicam o mundo com cinzas, com dor, com morte! Aqui, ou na Amazónia ou em Angola ou no Congo ou na Indonésia, é um lento apagar-se do planeta chamado terra, controlado pelas brilhantes, quanto maléficas, mentes humanas. O pecado do mundo não está só na Amazónia.
25/Agosto/2019
Teresa Ferrer Passos

sábado, 24 de agosto de 2019

A educação da criança


É preciso respeitar a identidade de cada criança que nasce mulher ou nasce homem, de acordo com as leis biológicas da natureza que a formou.
T.F.P.

Acerca da ideologia de género e dos seus defensores:
1. «O processo de identificação é dificultado pela construção fictícia de um ‘género neutro’ ou ‘terceiro género’. Desta forma, é toldada a noção de sexualidade como uma qualificação estruturante da identidade masculina e feminina. A tentativa de superar a diferença constitutiva do masculino e do feminino, como acontece na intersexualidade ou no transgénero, leva a uma ambiguidade masculino e feminino que, contraditoriamente, pressupõe a diferença sexual que se pretende negar ou superar. Essa oscilação entre masculino e feminino, torna-se, no final, apenas uma exposição ‘provocadora’ contra os chamados ‘esquemas tradicionais’, que não leva em conta o sofrimento daqueles que vivem em condição indeterminada’.»

Excerto de Homem e mulher os criou, documento datado de 11/6/2019, publicado pelo Vaticano sobre a "ideologia de género", contestando quem pretende eliminar a diferença homem-mulher.

2. «Afirmam que o ser masculino ou feminino não passa de uma construção mental, mais ou menos interessada e artificial, que, agora, importaria desconstruir. Por conseguinte, rejeitam tudo o que tenha a ver com os dados biológicos para se fixarem na dimensão cultural, entendida como mentalidade pessoal e social. E, por associação de ideias, passou-se a rejeitar a validade de tudo o que tenha a ver com os tradicionais dados normativos da natureza a respeito da sexualidade (heterossexualidade, união monogâmica, limite ético aos conhecimentos técnicos ligados às fontes da vida, etc.). É todo este âmbito mental que se costuma designar por ideologia do género».
Excerto da Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (Fátima, 14/11/2013)

domingo, 18 de agosto de 2019

Perdição


"Melancholy" de Albert György (2012)
(Lago Léman, Suiça)

O homem que não vê a sua alma, descobre o nada que o habita. Lá dentro só restam imagens fugazes sem memória.
18/8/2019
Teresa Ferrer Passos


terça-feira, 13 de agosto de 2019

A reconciliação com todos os irmãos


"Coroação da Virgem", pintura
 de Gentile da Fabriano (1370-1427)
[parte da sua obra foi destruída]


«Quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta»

«Procura reconciliar-te com teu adversário»

Mt 5, 23-24

A reconciliação com o adversário precede o ato de culto a Deus, disse Jesus. Eis um dos princípios da Nova Justiça. A Lei inscrita no coração seria eficaz. Não o era aquela que se inscrevera na pedra de Moisés.  
13/8/2019
T.F.P.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

«O Poeta é um fingidor»?

Maria do Carmo Sequeira: – O Poeta é um fingidor?Disse-o Fernando Pessoa, repete-o RUI KNOPFLI

Teresa Ferrer Passos: "O poeta é um fingidor", disse um dia Pessoa, a frase é contestada por alguns, devido à ambiguidade da palavra fingidor.

Maria do Carmo Sequeira: Finge a dor... mas uma dor que deveras sente.

Teresa Ferrer Passos:Pois é, mas há quem não leia com o sentido que muitos lhe atribuem (veja-se o artigo do poeta Carlos Lopes Pires, «Poesia: O Sortilégio de Dizer o Indizível» in revista «Gazeta de Poesia do Mundo de Língua Portuguesa», número duplo 3-4, Outono/Inverno, 1994, pp. 40-41). Talvez se possa fazer uma leitura de "a dor que deveras sente" como sendo também um fingimento, ao dizê-lo. Há uma certa ambiguidade nesses versos. Mas, a ambiguidade é uma das especialidades de Pessoa. Cara Maria Do Carmo Sequeira: aqui acrescentei algumas passagens de Carlos Lopes Pires (in «Poesia: O Sortilégio de Dizer o Indizível» in revista «Gazeta de Poesia do Mundo de Língua Portuguesa», número duplo 3-4, Outono/Inverno, 1994, pp. 40-41): «A poesia revela o rosto do que é importante, do que vive para além ou sob as aparências»; «Como pode a poesia tratar do fingimento? Não. O que a poesia faz, também, é recuperar os fragmentos, os pedaços vividos, gastos e consumidos na sua perenidade temporal»; «Como pode a poesia tratar do fingimento? É que é ainda por esta rua de luminosas e fraternas janelas que os poetas se indignam com as misérias do mundo humano»

Maria do Carmo Sequeira: Há sempre traços de ironia e de ficção na sua poesia...Não podemos pedir.lhe "verdade".

Facebook, 12/8/2019

Apontamento de Fernando Henrique de Passos:  
   
                       Acerca de "Pessoa e a verdade"
      
A Realidade tem dois lados - “Este Lado” e o “Outro Lado” - e, como nos ensinou Platão, o segundo é mais real do que o primeiro, se bem que o primeiro seja (muito) mais visível do que o segundo. 

Mesmo assim, ao longo da História sempre houve pessoas com o dom de terem acesso ao Outro Lado da Realidade. Conforme o grau e a modalidade desse seu acesso ao Outro Lado, e, sobretudo, conforme a forma que usam para transmitir o que “veem”, essas pessoas podem ficar conhecidas (por ordem alfabética) como cientistas, filósofos, loucos, místicos ou poetas, embora nem de perto nem de longe todas as pessoas conhecidas segundo alguma destas designações (exceto os místicos) pertença à categoria dos “visionários”.

Fernando Pessoa era um destes visionários, e por isso havia mais verdade naquilo que escrevia do que há nas coisas e nos factos de que todos os dias os nossos sentidos são testemunhas.
   
13/8/2019

Fernando Henrique de Passos


Sardinheiras

Uma flor é uma bênção para olhar.
   
12/8/2019
     
                                                   T.F.P.

Na casa, está o nosso dentro


Se colocamos nas pessoas amadas o nosso ser, às casas enchemo-las do nosso ser também, com o nosso estar aí, com as nossas ações, os nossos gestos, as nossas coisas predilectas.
12/8/2019
T.F.P.

domingo, 11 de agosto de 2019

Poema de aniversário: «A Seiva Secreta do Amor»

Teresa com poucos meses


Encontramo-nos no bosque mais secreto
Na câmara escondida no fundo do palácio

Cercado de arvoredo a toda a volta

Toda a vida esperámos este dia
O dia em que as palavras que diremos
Serão escutadas pelas árvores
E entendidas serão por essas árvores
Como os humanos nunca as entenderam

Já sonho em abraçar-te na folhagem
Quando o teu ser e o meu, quase vegetais,
Respirarem de novo o ar puríssimo
Do dia anterior à Criação

9 de Agosto de 2019 (aniversário da Teresa)

                       Fernando Henrique de Passos

A luz do Encontro

Pequeno retábulo antigo, com a imagem de Nossa Senhora

«Estai vós também preparados: Se vier à meia-noite ou de madrugada, felizes serão se assim os encontrar». 
Lc 12, 32-48

"Estar preparado", é manter Jesus como uma luz acesa dentro de si próprio, a cada momento, como Maria, o fez sempre. Não nos esqueçamos de a seguir. 
11/8/2019
T.F.P.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

A poesia ou «dizer o indizível» por Carlos Lopes Pires


No dia dos anos do poeta (7 de Agosto), uma pequena homenagem com uma passagem de um artigo de sua autoria, no ano em que lancei a revista «Gazeta de Poesia» - "em busca de uma poética do tudo":
   
«A poesia na sua missão redentora, tende inevitavelmente para a ética. Por detrás da poesia existe também uma razão ética, uma dignidade que se ergue acima do próprio tempo e daquilo que, não podendo ser dito é dito e repetido por todos os poetas do mundo, na sua missão de o salvar do esquecimento. De o redimir».
   
Carlos Lopes Pires, "Poesia: O Sortilégio de Dizer o Indizível" in Gazeta de Poesia do Mundo de Língua Portuguesa, número duplo 3-4, Outono/Inverno, 1994, p. 41.


terça-feira, 6 de agosto de 2019

Ao poeta Carlos Carranca

Carlos Carranca

«que o novo tratamento seja eficaz! Com a sua alma de poeta, tudo vai correr bem! Abraços meus e do Fernando para o nosso amigo de há quase tantos anos como os do nosso casamento» Internet, Facebook, 6/8/2019 (post de T.F.P.)

O Carlos Carranca prefaciou o nosso 1º «Álbum de Amor» (Universitária Editora, 1998, p.7) que aqui transcrevemos, recordando esses bons tempos:

«Conheci-os há anos, pela mão amiga de Victor de Sá. Desde logo me surpreendeu o olhar enternecido de ambos a sugerir um postal, desses que nossos avós guardavam num álbum.
   
Amantes de um tempo sem espaço até à morte que mata e res­suscita, dependem um do outro, indivisíveis, eternamente unos – figu­ras de um romance vivo, de carne e osso onde eles, os amantes, alheios ao mundo que os rodeia, constroem o seu casulo de felicidade.
   
«Cheios de alegria / como já não há» (disse-o, num verso, Fernando Henrique de Passos) avançam, sombra um do outro.
   
Repositório de duas vidas, este livro guarda o insondável se­gredo da paixão.»
   
Monte Estoril, 15.IX.97

Carlos Carranca

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

«Humilhados perante todos»


S. Luís Maria de Monfort caracterizou Maria como aquela que é temida pelos inimigos de Deus:
«Satã tentará atingir os seus humildes servos, os filhos que ela suscitará para fazerem guerra ao demónio. Eles serão pequenos e pobres na opinião do mundo, humilhados perante todos, mas em contrapartida serão ricos em graça de Deus, que Maria lhes distribuirá abundantemente»
in «Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria», p. 58, Ponto 54.

A arte a soltar-se da vida

Escrevendo no computador, essa máquina de escrever que
revolucionou a nossa relação com o papel (1998)

O artista vive a exteriorizar o que não cabe já em si, como se só assim pudesse viver. E isto nem todos compreendem.

5 de Agosto de 2019
Teresa Ferrer Passos

domingo, 4 de agosto de 2019

O que é a poesia: Percy Bysshe SHELLEY (1792-1822)


A poesia «transmuta tudo quanto toca: e todas as formas que se movem adentro do resplendor da sua presença se transformam, por maravilhosa simpatia, numa encarnação do espírito que dela emana; a sua secreta alquimia transforma em ouro potável as águas letais que da morte escorrem pela vida; desnuda o mundo do véu da familiaridade, e revela a sua nua e adormecida beleza, que é o espírito das suas formas».
    
      Shelley, Defesa da Poesia, Guimarães Editores, 1976, p.77.
         
***


A poesia não imita, transforma, dá nova forma, forja um novo conteúdo, dá mesmo outra realidade à realidade.
   7/8/2019 (Post no Facebook)
T.F.P.