sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

NATAL /2021


Nascimento de Jesus, em Belém


DAS PRIMEIRAS PROFECIAS MESSIÂNICAS (SÉCs. VIII a.C. - VI a.C.)
- ISAÍAS, ZACARIAS e MIQUEIAS

«O Senhor vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz
 um filho e há de pôr-lhe o nome de Emanuel (Deus connosco)»
                                                                                    
«Porquanto, um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado;
tem a soberania sobre os seus ombros e o seu nome é:
Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai eterno, Príncipe da Paz»
                                                                                   
«Brotará um rebento do tronco de Jessé (pai do rei David)
e um renovo brotará das suas raízes»
                                                                                   
                                                                        Is 7, 14; 9, 5;11, 1.


«Exulta de alegria, filha de Sião! Eis que o teu rei vem a ti;
Ele é justo e vitorioso, vem, humilde, montado num jumento»
                                                                        Zc 9, 9


«E tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as famílias de Judá,
é de ti que sairá o guia que há de apascentar o meu povo de Israel» 
                                                                        Mq 5, 1





O NATAL É NO INVERNO

Costumamos olhar para o Presépio
como um local aconchegado.
Como o local aconchegado por excelência.
Enternecedoramente aconchegado e acolhedor.

Mas era Inverno.
E a Sagrada Família estava refugiada num estábulo.
E o frio entrava por todas as frinchas.
E Maria e José vinham encharcados da chuva
que tinham tido de enfrentar.
E aquele Menino acabado de nascer
estava destinado a ser pendurado numa cruz
dali a 33 anos
e a morrer num sofrimento indescritível.

Demos graças ao Menino Jesus
por nos vir despertar do sonho de conforto
com que o Mundo nos embala
enquanto nos encaminha para a morte certa.

Demos graças ao Menino Jesus
por nos mostrar que só acordados
poderemos encontrar a Salvação.

Demos graças ao Menino Jesus
por ter nascido num Estábulo Invernoso
e não num Palácio Primaveril.

21/12/2021 (Solstício de Inverno)
                                   Fernando Henrique de Passos








INEFÁVEL MISTÉRIO

Um vento cresceu de súbito
levantando a terra fina num turbilhão;
besouros e cigarras zuniram ao desafio
e os cordeiros num desatino baliam e
chupavam o leite das suas mães. 
As folhas de uma figueira, próxima, soltavam-se.
E esvoaçando, dançavam como se ouvissem
hinos às estrelas fulgurantes e tão débeis.

Instante enorme fora o grito de uma criança.
Era a sacra vida a entrar no mundo,
infantil e a sentir a aspereza da
palha e da dura manjedoura.
Eram as primeiras horas de Deus
a nascer como um simples homem, ali,
naquele lugar insólito.
Uma virginal mãe o dava à luz
na escura e longa noite. 

23/12/2021 
                       Teresa Ferrer Passos 







NATAL DE JESUS

“Minha mãe, porque Jesus
Cheio de amor e grandeza,
Preferiu nascer no mundo
Nos caminhos da pobreza?
Porque não veio até nós,
Entre flores e alegrias,
Num berço todo enfeitado,
De sedas e pedrarias?"
“Acredito, meu filhinho,
Que o mestre da caridade,
Mostrou em tudo e por tudo,
A luminosa humildade!…
Às vezes penso também,
Nos trabalhos deste mundo,
Que a manjedoura revela,
Ensino bem mais profundo!”
E a pobre mãe de olhos fixos,
Na luz do céu que sorria,
Concluiu com sentimento,
Em terna melancolia:
-“Por certo, Jesus ficou,
Nas palhas sem protecção,
Por não lhe abrirmos na Terra,
As portas do coração.

                               João de Deus
(S. Bartolomeu de Messines1830-Lisboa1896)






segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Acerca de um comentário de Carlos Lopes Pires escrito no Facebook sobre o ensaio «A Lágrima de Ulisses - Regimes da Cultura Literária» (Editora Exclamação, 2021), de Manuel Frias Martins :

"Literatura que se abra para uma espiritualidade sem dogmas" diz-nos o Psicólogo Carlos Lopes Pires, citando o ensaísta. Mas como gizar uma espiritualidade sem nenhum dogma, ou seja, sem um princípio orientador que dê um sentido para o caminho? Como consegui-lo? Dizer só que o rumo é a espiritualidade é muito vago, é algo de indefinido, algo que pode vir marcado por ideologias de todas as feições, sem ética, com uma ética da violência ou com uma ética do amor... Muitos sentidos é possível encontrar ao escrevermos a palavra espiritualidade. Se a espiritualidade não tiver uma marca, um sinal de sentido, como perfilhá-la com sentido da responsabilidade? Por isso, afastar qualquer dogma que seja fundamento de uma nova espiritualidade, é entrar num caminho esvaziado de conteúdo, de fios condutores, num caminho em que todos se podem perder e ninguém se encontrar.

29/11/2021

                                                               Teresa Ferrer Passos

Comentário de António DAlmeida Nunes:

Na minha opinião pode falar-se e sentir a emoção espiritual de se ser parte do cosmos (particularmente o poético) sem termos de nos prender ao fio condutor seja de que dogma for. O sentido do caminho vamo-lo encontrando à medida que caminhamos. Mesmo sabendo que as rosas também têm espinhos.

Resposta a António DAlmeida Nunes:

«Só que "emoção espiritual" é uma coisa e "espiritualidade" é outra, caro António DAlmeida Nunes. Além disso, literatura tem a ver com ficção das palavras, com o modo de dizer a palavra, a frase, com o enredado das palavras, é uma forma de dizer diferente, o que nada tem a ver com «espiritualidade nova». A espiritualidade é muito mais abrangente do que qualquer literatura, seja ela de que linha for. A espiritualidade é um fundo pensante que tende ao universal, ao global, enquanto a literatura não, a literatura é uma forma que tem as suas fórmulas específicas que não têm em vista levar à globalização, ainda que muitos o tentem... A literatura não tem em vista "fazer", nem pode ter em vista "fazer" uma "espiritualidade nova".

Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

 MEMÓRIA na morte do poeta ANTÓNIO OSÓRIO (1/8/1933-18/11/2021). Aqui deixamos um poema do livro «A Ignorância da Morte», Edição de Autor, 1978:


Alcantarilha antiga

ALDEIA DE IRMÃOS

Ao pé dos eucaliptos,
do lavadouro, as casas.
Capela fechada, oficiantes ratos,
e cães, patos, galos
na rua e a dormir dentro,
individuais, sub-reptícios.

E doentes, cavadores, crianças
sonhando com ninhos destruídos.
Longe, na paróquia o cemitério.

Em torno vinhas, olivais,
irmãos uns dos outros
como tijolos dentro da parede.
E no inverno o canto
da lenha exorbitante na lareira,
a queimar, a queimar a cinza por debaixo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Árvore da Vida


Os lares são uma equívoca solução que coloca os mais velhos numa solidão tremenda. A solidão das coisas que, na nossa casa, falam connosco todos os dias e as nossas memórias maiores desaparecem! Ter muitas pessoas à nossa volta com quem não há diálogo, só agrava mais a solidão daqueles que perderam os seus entes mais queridos da sua presença.

11/11/2021
Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

POEMA INÉDITO

Acácia do deserto

ÁRVORE PERDIDA


era já tarde na casa da árvore pedida
desfolhada sem terra. só silêncio.

era já tarde no tempo vasto a derreter a neve
das minhas horas passadas entre sombras.

era já tarde e o tempo não estava aqui.
não tinhas chegado à minha ventania.
o tempo tinha parado em mim
como espuma inquieta.
de súbito o tempo girou forte.
e foi a emoção com as asas do pássaro
a mostrar a força do amor.
o tempo num relâmpago vi. e eras tu.
com que luz intensa e inesperada!

5 de Novembro de 2021
(no 28º aniversário do nosso noivado)

                                               Teresa Ferrer Passos

POEMA INÉDITO

 



O CAMINHO

Abri as portas do Jardim do Éden,
Julgando que era o ponto de chegada.
Mas não encontrei as luzes de um poente
E sim o raiar da madrugada.

Abri as portas do Jardim do Éden,
Julgando que era o ponto de chegada.
Mas fora Deus quem me pusera ali,
Eu na verdade não andara nada.

Abri as portas do Jardim do Éden,
Julgando que era o ponto de chegada.
Tu estavas no centro à minha espera
E começou então a caminhada.

5/11/2021 (no 28º aniversário do nosso noivado)

                     Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Dia de Finados


E os que saíram da nossa presença, do nosso amor e da nossa amizade, continuam presentes na nossa memória enquanto durar!

2 de Novembro de 2021
T.F.P.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

POEMAS-MEMÓRIA




VENTO DE OUTONO


                   No 28º aniversário do início do nosso namoro


Vi as ondas de um caminho outro em frente de mim.
Vi. Mas não sei já o que pensei naquela manhã-tarde.
Só sei que subi até um sol distante e aqui.
Tudo, no nada em que me inscrevia
se tornava real. Era lua quarto-crescente
algures na linha do horizonte.
Rompia um arco-íris perto do mar ignoto,
algures no areal longo.
Descobria num instante único que aqui estavas
como folha débil de outono e já a elevar-se
num vento a vir do mais fundo de ti.

29 de Outubro de 2021

                                   Teresa Ferrer Passos



POESIA VIVA


Tu és o poema que eu queria escrever.
Quando procurava figuras de estilo
Para construí-lo,
Foste acontecer!

Foste acontecer como por magia,
Concretização dos meus devaneios.
Mas não nasceria dos meus pobres meios
Tão bela poesia!

Poesia sonhada, sonho sem ter fim,
Sonho que é real, que é feito de luz,
E que tem um fito, e que me conduz:
Se eu não te escrevi, tu escreves em mim!

29/10/2021


                          Fernando Henrique de Passos

domingo, 17 de outubro de 2021

Amanhã, a literatura?



A propósito de Astronomia de Mário Cláudio. Uma literatura a seguir um caminho cada vez mais esotérico. Não sei para onde vai a palavra humana... E será esta literatura que vai ter futuro?

                                                                                                         T.F.P.


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Lembrando o 13 de Outubro de 1917

Representação da Santíssima Virgem Maria,
 sua mãe e seu pai, Santa Ana e S. Joaquim.
Pintura de Francisco Zurbarán (1598-1664)

O milagre do Sol a renovar-se, em cada 13 de outubro. Desde 1917. O milagre pedido por Lúcia, a pequenina pastora da Cova de Iria, para que acreditassem nela. Hoje, a Mãe de Jesus, a Virgem Santíssima, permanece no mundo. A sua presença a transmitir a Verdade. E a Verdade, muitos a rejeitam.
T.F.P.

domingo, 10 de outubro de 2021

MEMÓRIA do advogado José Jacinto Bernardino (1888-1962) no aniversário da sua morte


Da direita para a esquerda: avô, pai, eu e avó


INFORTÚNIO

                                 Ao meu avô paterno

Naquele dia outonal, na pequena Alcantarilha,
a mãe mostra o filhinho e logo um voto formula:
hás de servir a Deus, abençoado menino,
hás de ser padre, se tal honra me for dada.

Seu desejo maternal não se realizou, como esperava.
o direito, a lei, a justiça, iam um dia desviá-lo.
O seu sonho era defender a gente
que num banco de réu se sentasse,
fosse rica ou pobre fosse.
"Vou defender quem precisa", pensava, todo a vibrar.
era preciso estudar e a Coimbra rumou.
Um curso de Direito concluiu.
E lá conheceu a mulher que desposaria.
Já em Lisboa, um filho nasceu. Que alegria!
E a todos defendia com a voz da emoção.
as lágrimas a atravessá-lo, quantas vezes as sustinha.
O casamento falhado. Mal amado, vivia.
A desventura sofreu com sabedoria.
Só o tempo das férias lhe dava um certo consolo:
podia voltar à aldeia, aos pais, aos irmãos...
Buscava o amor e a paz que não tinha em sua casa.

Velho e doente, regressa a Alcantarilha.
poucos meses lhe restam. É a hora. A morte espreita.
Definitivo regresso.
A paz de espírito nasce
e na aldeia amada repousa, enfim.


10 de Outubro de 2021

                      Teresa Ferrer Passos/Teresa Bernardino




segunda-feira, 4 de outubro de 2021

DIA DE S. FRANCISCO DE ASSIS

 


"Francisco, a minha igreja está em ruínas... reconstrói-a"! E as obras começaram, mas não eram essas as obras necessárias, as obras tinham de ser feitas nos corações.
4/10/2021

S. Francisco de Assis foi chamado por Deus para reconstruir a Sua Igreja que estava em ruínas. Hoje, como no seu tempo, as arbitrariedades, os abusos desfiguram a Igreja de Jesus, o Cristo. O "resto", como diziam os profetas de Israel, não pode ficar paralisado!
9/10/2021
Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

"Eutanásia disfarçada"



Hoje, palavras do Papa Francisco

Num discurso durante a sessão plenária da Pontifícia Academia para a Vida, o Papa Francisco manifestou a sua discordância da cultura que descarta. Exemplificou com o caso dos idosos tratados “como lixo, porque não são necessários”, quando representam sabedoria. O Papa considera que existe uma “eutanásia disfarçada” ao serem dados aos idosos apenas uma parte dos medicamentos que necessitam, encurtando-lhe assim o tempo de vida. Apelou para que “os académicos, as universidades católicas e mesmo os hospitais católicos “não entrem nesse caminho”.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021



Cada gesto do dia a dia não pode nunca esquecer as palavras evangélicas que veiculam a doutrina revelada por Jesus. Seja de dia, seja de noite. Para Deus, há sempre luz. Nada se pode esconder.
   
13/9/2021                                                       Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

O belo

 A verdadeira beleza está em não se reconhecer nela.

1/9/2021                                                                     T.F.P.

sábado, 28 de agosto de 2021

No dia dos meus anos

Logo pela manhã, recebi um lindíssimo poema ("Nos teus anos") de parabéns do Fernando, como é tradicional, desde o nosso casamento.

Aqui reproduzo os primeiros versos:
«Gosto do dia dos teus anos / porque significa que nasceste / e se não tivesses nascido / não estarias hoje a meu lado. (...)».


Escrever com a emoção nas linhas e entrelinhas da poesia, traz-nos a vida que se vai consumindo nos anos e que o tempo não sabe ou não consegue apagar.
9/8/2021
                                                                      T.F.P.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

No pequeno cacto, a grande flor

Grande flor branca (a primeira) nascida esta noite num pequeno cacto da minha varanda.

 

A vida é tão fácil e, às vezes, há quem a torne tão difícil.
 
 27/8/2021
                                                                                T.F.P.


terça-feira, 24 de agosto de 2021

MEMÓRIA DE MEU AVÔ JOSÉ BERNARDINO

 


“SANTA MÃE”

 

                        Ao meu avô José Bernardino (1888-1962)

                      

Recordo-te na memória imensa da tua “santa mãe”,

assim dizias, como se uma brisa leve

passasse de súbito no teu coração

inquieto e triste. A sua memória era uma

chuva branda a humedecer-te os olhos.

Guardavas dela a lembrança de uma ternura ímpar

que te bafejara desde o nascimento

na casa do perfume dos figos

e das alfarrobas, que se alargava à rua

da pequena Alcantarilha. E a tua voz saudosa

vibrava na cidade distante, o amor da “santa mãe”.

Para ti, ela não cabia na ausência da morte

e davas-lhe a presença nas festas dos dias

de Natal, da Páscoa, dos aniversários…

Ela, a tua “santa mãe”, estava sempre

nessas duas palavras comoventes

vindas da tua alma perdida de carinho.

Ao dizeres "santa mãe”, acendias a candeia

da sua memória e eu, criança ainda,

escutava, julgando ouvir uma oração.

 24/8/2021

                                          Teresa Ferrer Passos

domingo, 15 de agosto de 2021

DA TERRA AO CÉU


«Ao espalharem-se sem rumo,
tornaram-se presas fáceis
e alimento para todos os animais selvagens»
                            Ez 34, 5-6


No dia da Assunção, Maria,
viu do céu todos os corações ofendidos.
Viu a dispersão dos filhos desavindos,
uns abandonados em fragas,
outros em terra dura, ressequida
e tantos entre raios de sol a queimarem insaciáveis.

Derrubados pela injusta palavra de alguns,
as simples gotas de água das anémonas
e dos narcisos secavam, desgostosas.
O fogo vibrava fagulhas e vagueava vitorioso nos
férteis rebentos de róseas amendoeiras.
A cálida planície enegrecia de fumo vasto.

Foi nessa hora amarga que tombou do céu
o manto branco de Maria.
Nele envolvidas, vinham as suas faces
com as lágrimas vertidas pelo mundo todo.

No céu, a Mãe enternecida
recolhia-as e chorava com os filhos.
Daqui. Da terra.

Dia da Assunção de Nossa Senhora ao Céu

Teresa Ferrer Passos


 

terça-feira, 20 de julho de 2021

POEMA INÉDITO:



A PALAVRA ESTÁ NO DESERTO


                                       Ao Fernando                      

Nos valados entremeados de sombras,
os penhascos avançam desenfreados.
Animais fantásticos escondem-se,
depois entram no palco vasto e revelam-se.
Com risos mordazes ferem o som do silêncio
e gritam. Há algazarras de loucos que quebram
a paz dos lugares. Cães ladram como selvagens.

E nós, tu e eu, seguimos num cavalo alado
que nos conduz ao deserto.
A vida resiste aí. E aí ficamos
com todas as palavras nunca ditas.

20/7/2021
                                                  Teresa Ferrer Passos

UM POEMA INÉDITO

Casamento de Teresa e Fernando na Igreja
de S. Nicolau em Lisboa, em 19/2/1994

METAMORFOSE

    No 28º aniversário do dia em que nos conhecemos

Narciso escancara uma janela
Sobre um mar de espelhos em estilhaços
Espelhando a ruína de uma noite
E a súbita vertigem dos espaços.

O fim de um mundo fechado sobre si
Enfim aberto à luz dos outros mundos.
A estéril escuridão a dar a vez
À claridade dos dias mais fecundos.

Mudou Narciso, já tem um novo nome,
Mas quem muda de nome não é um qualquer.
Mudou Narciso ‒ e mais irá mudar ‒
Por obra e graça de uma mulher sem par.

20/7/2021

                      Fernando Henrique de Passos


Comentário no Facebook:

Uma memória linda, Fernando, a reerguer-se das noites e dos dias, das desventuras e das venturas, dos tropeços e das levezas, em anos a vibrarem o Amor, à maneira do belíssimo "Cântico dos Cânticos" que Deus nos ensinou.

                                                                             Teresa Ferrer Passos

domingo, 18 de julho de 2021

UM ARTIGO SEM A ARIDEZ DA NORMALIDADE...




Lembrando Auschwitz, S. João da Cruz e Etty Hillesum, escreveu o Padre João Manuel Teixeira da Costa (Ordem dos Carmelitas Descalços):

«Deus pode também penetrar e adentrar-se por sob a carapaça de chumbo do horror sem nome fabricado pelos homens. (...) "Torna-se cada vez mais claro o seguinte: que tu (Deus) não nos podes ajudar, que nós é que temos de te ajudar, e, ajudando-te, ajudamo-nos a nós próprios" (Etty Hillesum). E evitando-se assim, as garras da águia iníqua, mas sofrendo-as, se chega à união, porque "ninguém fica nas garras de ninguém, se estiver nos teus [Deus] braços" (E.H.).
Sim, o século vinte e um pode oferecer orações e flores a Deus, porque o que porventura Deus não possa fazer haveremos nós de O ajudar a poder fazer. (...) Quando Juan de la Cruz descreve o processo empoderador da 'noche oscura' tem, sem dúvida, diante de seus olhos, o aniquilamento de Jesus, em Quem não houve maior perder para melhor ganhar! (...) Ainda é possível semear flores no coração!»

João Manuel Teixeira da Costa, "Se eu de ti me esquecer! Poderemos ainda oferecer flores no século vinte um?" in «Revista de Espiritualidade», nº 111, Julho-Setembro/2020, pág. 91, 92 e 93.

domingo, 11 de julho de 2021

POEMA INÉDITO

Minha mãe, Natércia Paz Ferrer,
ao centro, com colegas do Hospital (1948)

 CAMINHO

                    A minha mãe

 um caminho abriu-se nas enigmáticas águas

o rochedo soltou-se

das tuas mãos de pó

ávidas de compaixão.

ali ninguém passava

só um delírio de amor cresceu

no teu coração de fogo.

      11 de Julho de 2021 (31 anos depois da despedida)

                     Teresa Ferrer Passos 


segunda-feira, 14 de junho de 2021

POEMA INÉDITO

SILÊNCIO E VOZ

O silêncio é a voz da eloquência maior,
é o som que se esconde e vivifica,
não ilude, não adula
nem faz tropeçar o inocente.
O silêncio não engana com artifícios,
não faz cair em banais palavras,
levanta o enterrado na solidão.

É sentimento forte sem cansaço.
O silêncio engrinalda o sofrimento,
descobre o tamanho da sua alma incendiada
e habita o vento com seus murmúrios.

A flor do incenso a exalar perfume
é um silêncio longo de abandonadas colinas.
Uma semente que cai à terra é o fértil
calor de um silêncio que se eleva até à criação.
A morte segrega o silêncio a cada momento
e transforma-o em vida que irrompe a rodos.

O silêncio está em cada árvore
e nas aves quando cantam ao crepúsculo
e nos lagos calmos que entoam no silêncio
o espelho e a transparência das suas águas.

O silêncio não precisa de palavras,
vê mesmo um simulacro em todas as palavras.
Para quê palavras, pergunta. As infinitas imagens tudo dizem,
responde. As imagens dizem a existência.
Está aqui o silêncio.

13/6/2021

                                                                      Teresa Ferrer Passos  

MEMÓRIA de FRANCISCO MANTERO (1948-2021)

Francisco Mantero

Consultor da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Francisco Mantero morreu no dia 11, aos 72 anos, na sua casa, em Cascais. Francisco Mantero morreu inesperadamente. Conheci-o aos 16 anos, como colega do Liceu de Oeiras. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, desenvolveu numerosas atividades ligadas à economia nacional e aos países lusófonos pelos quais tinha verdadeiro fascínio. De uma simplicidade notória, gostava ainda de conviver com colegas da turma em que concluiu o curso do liceu.

Com muita saudade, lembro neste momento em que nos deixou, a sua carreira ligada à gestão de empresas em África ou relacionadas com aquele continente, em S. Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Moçambique. Do seu percurso, destaco ainda funções na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa/Associação Comercial de Lisboa, com o pelouro das Relações com os Países Lusófonos e Cooperação Internacional. Tendo integrado a Comissão Nacional da UNESCO. foi presidente e vice-presidente do Conselho Geral da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Económico e a Cooperação. Desempenhou ainda a função de secretário geral da Confederação Empresarial da CPLP-Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Pertenceu também, entre outros desempenhos, ao conselho de Orientação do Instituto de Investigação Científica Tropical. Foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.

14/6/2021
Teresa Ferrer Passos

sábado, 12 de junho de 2021

A vida é uma esperança em contínua renovação que se vai renovando sempre, como se fosse eterna! E à morte resta perder a batalha.
12/6/2021
T.F.P.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Um Poema Inédito:

A PALAVRA

A palavra. Quando verte o azul celeste,
refresca-se no mar. Recorte do céu.
Encanto de areais longos 
e de ventos agitados sem seguro lugar.

A palavra. Onde os abismos permanecem,
onde se veem ninhos de cegonhas acabadas de nascer,
prontas a voar, sem medo do largo espaço. 

A palavra. Paira amarga entre penedos. 
Ondas gigantescas contorcem-na.
A espuma branca devora-a.
Esparge sentidos que nem o mar descobre. 

A palavra. Apaga-se nos vales das sombras,
enterra-se nos fundos pântanos,
adia a pureza. Impossível cruzada.

A palavra. Rompe as barragens da voz
e aos mistérios, não retira os grilhões.


Sílabas mortas, entrelinhas, desvarios, 
espantosas armadilhas. Secretas. Vagas.
Indesvendáveis. A palavra.

10 de Junho de 2o21
                                             Teresa Ferrer Passos


quarta-feira, 9 de junho de 2021

DIA de PORTUGAL, de CAMÕES e das COMUNIDADES PORTUGUESAS


"A primeira tarde portuguesa" pintura datada de 1922, representa a batalha de S. Mamede da autoria de Acácio Lino de Magalhães.


Recordando o historiador Damião Peres, uma pequena passagem de um dos seus livros mais empolgantes:

«No dia 24 de Junho de 1128, o conflito teve a sua decisiva crise: as forças de D. Teresa e a hoste com os partidários de D. Afonso Henriques defrontaram-se nos campos de S. Mamede, próximo de Guimarães. Saiu vitorioso Afonso Henriques, que expulsou para a Galiza o conde Fernando Peres e D. Teresa.
Anulada a autoridade de D. Teresa, Portugal passa a ser governado exclusivamente pela gente portuguesa, de que é a primeira figura Afonso Henriques. Essa luminosa tarde foi realmente a 'primeira tarde portuguesa'»

Damião Peres, Como Nasceu Portugal, Portucalense Editora, Porto, 1959, pp.112-113.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Ainda a propósito do Dia do Corpo de Deus



O Cristo pregado na cruz: entre a natureza humana e a natureza divina. O sinal de contradição: o sofrimento todo humano e a paz toda divina.

8/6/2021
Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Dia do Corpo de Deus


Raminho da 5ªfeira da espiga

Jesus, o Corpo de Deus, a revelar o Pai no diálogo com a humanidade - esta a revolução maior do mundo. E, hoje, parece que poucos dão por ela. A humanidade virou-se tão para dentro de si própria que pouco vislumbra e valoriza o que venha de um Além maior a procurá-la.

3/6/2021

Teresa Ferrer Passos