domingo, 10 de outubro de 2021

MEMÓRIA do advogado José Jacinto Bernardino (1888-1962) no aniversário da sua morte


Da direita para a esquerda: avô, pai, eu e avó


INFORTÚNIO

                                 Ao meu avô paterno

Naquele dia outonal, na pequena Alcantarilha,
a mãe mostra o filhinho e logo um voto formula:
hás de servir a Deus, abençoado menino,
hás de ser padre, se tal honra me for dada.

Seu desejo maternal não se realizou, como esperava.
o direito, a lei, a justiça, iam um dia desviá-lo.
O seu sonho era defender a gente
que num banco de réu se sentasse,
fosse rica ou pobre fosse.
"Vou defender quem precisa", pensava, todo a vibrar.
era preciso estudar e a Coimbra rumou.
Um curso de Direito concluiu.
E lá conheceu a mulher que desposaria.
Já em Lisboa, um filho nasceu. Que alegria!
E a todos defendia com a voz da emoção.
as lágrimas a atravessá-lo, quantas vezes as sustinha.
O casamento falhado. Mal amado, vivia.
A desventura sofreu com sabedoria.
Só o tempo das férias lhe dava um certo consolo:
podia voltar à aldeia, aos pais, aos irmãos...
Buscava o amor e a paz que não tinha em sua casa.

Velho e doente, regressa a Alcantarilha.
poucos meses lhe restam. É a hora. A morte espreita.
Definitivo regresso.
A paz de espírito nasce
e na aldeia amada repousa, enfim.


10 de Outubro de 2021

                      Teresa Ferrer Passos/Teresa Bernardino




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