UM LIVRO ABERTO
À minha mãe, na passagem do 30.º aniversário da sua morte
À minha mãe, na passagem do 30.º aniversário da sua morte
O livro que não escreveu,
li-o nas páginas das
suas lágrimas
prontas, lisas na
derrota
sofrida pela morte
da mãe, aos nove anos.
Que golpe sem
sentido, que perda insuperável.
E toda a vida a
haveria de chorar, eu quase
presenciei tanto
abandono. A perda vil, a perda irreal.
E toda a riqueza que
viu em eu nascer,
erguia-se no livro
que não escreveu:
no susto de me
perder ainda na gestação,
no terror de meu
pai me rejeitar
já depois do
nascimento,
no pesadelo de eu
morrer de poliomielite
aos onze anos. E a
perda de sua mãe
sentia-se ainda na
velhice,
na dor em que jazia já
por me deixar
sozinha. Agora, também
perdida me sentia,
com a sua própria morte.
Não se enganou.
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