sábado, 11 de julho de 2020

Um poema no 30.º aniversário da morte da minha mãe



UM LIVRO ABERTO

                  À minha mãe, na passagem do 30.º aniversário da sua morte

              
O livro que não escreveu,
li-o nas páginas das suas lágrimas
prontas, lisas na derrota
sofrida pela morte da mãe, aos nove anos.
Que golpe sem sentido, que perda insuperável.
E toda a vida a haveria de chorar, eu quase
presenciei tanto abandono. A perda vil, a perda irreal.
E toda a riqueza que viu em eu nascer,
erguia-se no livro que não escreveu:
no susto de me perder ainda na gestação,
no terror de meu pai me rejeitar
já depois do nascimento,
no pesadelo de eu morrer de poliomielite
aos onze anos. E a perda de sua mãe
sentia-se ainda na velhice,
na dor  em que jazia já
por me deixar sozinha. Agora, também
perdida me sentia, com a sua própria morte.

Não se enganou.

11 de Julho de 2020

Teresa  Ferrer Passos

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