quarta-feira, 3 de junho de 2020

MEMÓRIA DE AGUSTINA BESSA-LUÍS: (15/10/1922-3/6/2019)

Agustina Bessa-Luís no seu escritório

   «Essa funda desavença do homem em si mesmo, esse temor de ser oculto sob as mais diversas aparências, causa um foco de paixão em toda a alma desprevenida. Podem-se negar todos os mitos, caímos noutros; pode-se possuir uma armadura brilhante que o orgulho forjou, seremos invariavelmente humilhados pela antítese da nossa escolha, pois o homem não é livre para decidir de si próprio, só o é para cumprir a razão do seu mesmo absurdo."

Agustina Bessa-Luís, O Sermão do Fogo, 2ª edição, Guimarães Editores, 1995 (1ª edição, 1962), p. 88.

***

A força das palavras, a profundeza das origens, o romance em todo o seu esplendor é a arte de Agustina Bessa-Luís. Neste excerto do romance O Sermão do Fogo, a escritora faz notar a precariedade do eu pessoal, a sua impotência ante os acasos incontornáveis. As circunstâncias exteriores são muitas vezes limitadoras ou condicionantes de uma actuação de acordo com o eu pessoal que, assim, não é livre, como seria lógico, e, por isso, cai num absurdo.
  
3/6/2020
                                   T.F.P.

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