segunda-feira, 29 de junho de 2020

DIA DE S. PEDRO - Cristão mártir e condenação à morte de cruz invertida

Em nossa casa, o tradicional trono do santo popular, S. Pedro

«Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja» (Mt 16, 18)

Pedro, discípulo de Jesus, foi escolhido por Ele, para ser o seu representante na Terra. Nessa ocasião tinha a profissão de pescador. Tinha os seus barcos, no Mar da Galileia. Deveria ser, depois, para Jesus, «pescador de homens». A sua cultura intelectual é discutível, segundo alguns. Contudo, ninguém pode assegurar que fosse idêntica à de um pescador dos nossos dias. Na Palestina do tempo de Jesus, um pescador, um carpinteiro, um carvoeiro ou um pedreiro, podia ser, em simultâneo, doutor da lei, rabi (mestre) ou escriba (escritor e/ou poeta). Não havia, há dois mil anos, a estratificação social discriminatória existente, ainda nos nossos dias, nos países democráticos ou socialistas. Como escreveu Daniel Rops, «o ofício de médico era citado nas enumerações ao lado do tecelão e do carpinteiro» (Vide A Vida Quotidiana na Palestina no Tempo de Jesus)
Lembremos, hoje, Pedro que foi capaz de desempenhar com um heroísmo e uma humildade inesgotáveis a missão de que Jesus o encarregou.

29/6/2020

Teresa Ferrer Passos 

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Memória no Dia de S. João (S. João Baptista)

O trono de S. João em nossa casa

«João prega contra ventos e marés, prega sem medo dos poderosos, dos ricos, dos que o odiavam por lhes lembrar o mal que faziam aos seus semelhantes. Quantos inimigos lhe atravancavam o caminho. Nada o fazia olhar para trás. Foi até ao fim sem medo ou recuos perante os que não acreditavam nele, perante os que não aceitavam os seus reparos, os seus avisos. Aqueles que não acreditavam nas suas palavras, denunciaram-no aos senhores do poder, aos poderosos que ele não poupava. (...)

O Baptista foi condenado à morte por decapitação. «Os discípulos de João vieram buscar o cadáver e sepultaram-no, depois foram dar a notícia a Jesus» . A mágoa atingiu, de modo muito duro a Jesus, ao ter conhecimento do trágico desfecho da vida do Seu profeta maior, do Seu Enviado, do Seu Mensageiro, enviado pelo Pai para aplanar os caminhos que haveria de percorrer: «Jesus quando isto ouviu, retirou-Se dali numa barca, para um lugar solitário e afastado» .

             Teresa Ferrer Passos, «Uma mística para o mundo» (dois excertos da Palestra proferida pela autora no Centro de Espiritualidade e Cultura, Lisboa, 2015)


quinta-feira, 18 de junho de 2020

Um Poema:

como um sal*
No altar do amor ergueu-se o som do mar.
Com chamas de maresia, uma vela pequenina
brilhou, como um natal, suave e denso.
Depois, o nosso olhar tocou o céu,
descido por instantes.
As nossas almas beijaram-se
como um sal.
E o perfume do mar ficou ali
só para louvar a Deus 
que o nosso amor abençoava.

* Teresa Ferrer Passos, Parte I - "No teu espaço de voz ouço-te em oração" in Teresa Ferrer Passos e Fernando Henrique de Passos, A Montanha ou a Peregrinação do Amor, Hora de Ler, Leiria, 2019, pág.14.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Memória breve do 13 de Junho de 1888, dia do nascimento de Fernando Pessoa (1888-1935))

Óculos de Fernando Pessoa leiloados



Fernando Pessoa, desencontrando-se de si, foi um só, sem se desviar de si, uma só vez.
13/6/2020
T.F.P.

Escreveu sobre Portugal: «Que ideias gerais temos? As que vamos buscar ao estrangeiro. Nem as vamos buscar aos movimentos filosóficos profundos do estrangeiro; vamos buscá-las à superfície, ao jornalismo de ideias. E assim as ideias que adoptamos, sem alteração nem crítica, são ou velhas ou superficiais.» (manusc. 55 I - 24 [dact] in Fernando Pessoa, Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional, Ática, 1978, p.85)

sábado, 13 de junho de 2020

Vandalismos...


Vandalismo na estátua do Padre António Vieira. em Lisboa, essa grande figura da História de Portugal, sob o pretexto de tal acto se inserir numa manifestação anti-racista (decorrente da morte de um afro-americano às mãos da polícia nos EUA)

O Padre António Vieira (1608-1697) , aquando no Brasil, lutou aí, com veemência, pela correcção de leis que davam um precário estatuto humano (escravos) aos índios do Brasil. Foi um cultor do verdadeiro cristianismo, não se submetendo às políticas de estado quase indiscutíveis numa época em que a compra e venda, em África, de escravos era praticada por todas as nações da Europa.

13/6/2020
T.F.P.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

A celebrar o Dia da Morte de Santo António (13 de Junho de 1231)


O tradicional trono de Santo António, na nossa casa


Santo António de Lisboa, tão sozinho
e tão triste no adro da tua igreja...
"Onde é que está o teu povo?"
Perguntámos, espantados.

"Confinado, perdido da alegria".
Disse apenas.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Poema a Luís Vaz de Camões




LEMBRANÇA NÃO INTEIRA

                                              A Luís Vaz de Camões


Ossos teus, distantes ossos, navegam exauridos
sob os torrões da terra.

Ossos teus, desmembrados, à espera de urna, 
de réstia de terra ou só de uma lembrança não inteira.

Ossos teus, a revolver ainda o tempo que viveste
sem rumo certo, em busca apenas de um rochedo,
só recebendo da vida a amargura, 
o desprezo e a inveja que defrauda.

Ossos teus, sem a sombra de uma árvore, 
descansem, ainda assim, da dura vida, da procela,
dos sonhos vãos de amor esvaziados.

Ossos teus, sem memória alguma, 
sem sequer ter a luz de um céu sem estrelas,
a jazer aí, sob as raízes desalmadas 
de um apagado jardim dominicano. 

Ossos teus, sem carregar sequer a compaixão
do pó ou traduzir o teu silêncio loquaz,
o teu silêncio vivo.

Ossos teus, apagados do mundo num segundo,
com as memórias malfazejas, as desditas imprevistas, 
a ingratidão dos homens? Tudo apagado!

E resistes imortal, Luís Vaz, ou só Camões.

10/6/2020
Teresa Ferrer Passos




terça-feira, 9 de junho de 2020


Mesmo que só tivéssemos vivido um instante de amor, valia a pena tê-lo vivido. Mas, nós temos uma multiplicidade de instantes, cada um diferente do outro, cada um cheio de interrogações, de juízos e de emoções. É essa a nossa grande riqueza.
 
8/6/2020
T.F.P.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

O Racismo na América

O Racismo é uma aberração moral. Contudo, há quem utilize esse slogan para provocar outras aberrações morais, como, o ódio e a violência nas grandes cidades do mundo.
A anarquia progride: os seus desvairados adeptos sentem-se vivos através da voz da destruição, sempre em sintonia com as ideias que mitificaram. Os mitos comandam a multidão.

8/6/2020
                                                     Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 4 de junho de 2020

UM POEMA DE...


ESCONDIMENTO DA POESIA

O tempo passa a várias velocidades
de igual modo nos campos e cidades...
Quem gritou? Apenas ouvimos silêncio
vagamente habitado e soletrado...
As palavras limitam-se a desabrochar
mas até essa Primavera parece falsa
com tantas interrupções da "normalidade"...
Pássaros ouvimos, intermitentemente...
Atravessar o tempo de indigência
com ou sem inteligência...
Ouvir, calar, aceitar por respeito
o modo de cada um confinar e desconfinar...
Os versos estão ocultos, por vezes assustados
de há tanto tempo se encontrarem parados»

Maria Teresa Dias Furtado


***
«Os versos estão ocultos, por vezes assustados», como diz com lisura Maria Teresa Dias Furtado, neste tocante poema, a caminhar sobre as malhas do confronto humano com uma pandemia estranha, de múltiplas máscaras.
4/6/2020
T.F.P.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

MEMÓRIA DE AGUSTINA BESSA-LUÍS: (15/10/1922-3/6/2019)

Agustina Bessa-Luís no seu escritório

   «Essa funda desavença do homem em si mesmo, esse temor de ser oculto sob as mais diversas aparências, causa um foco de paixão em toda a alma desprevenida. Podem-se negar todos os mitos, caímos noutros; pode-se possuir uma armadura brilhante que o orgulho forjou, seremos invariavelmente humilhados pela antítese da nossa escolha, pois o homem não é livre para decidir de si próprio, só o é para cumprir a razão do seu mesmo absurdo."

Agustina Bessa-Luís, O Sermão do Fogo, 2ª edição, Guimarães Editores, 1995 (1ª edição, 1962), p. 88.

***

A força das palavras, a profundeza das origens, o romance em todo o seu esplendor é a arte de Agustina Bessa-Luís. Neste excerto do romance O Sermão do Fogo, a escritora faz notar a precariedade do eu pessoal, a sua impotência ante os acasos incontornáveis. As circunstâncias exteriores são muitas vezes limitadoras ou condicionantes de uma actuação de acordo com o eu pessoal que, assim, não é livre, como seria lógico, e, por isso, cai num absurdo.
  
3/6/2020
                                   T.F.P.