- Majestade! acalmai-vos! não vos precipiteis! ainda não vos foi revelado tudo o que o oráculo de Tiro me confidenciou - interrompeu o fenício, irritado.
- O que falta dizerem?! - exclamou o rex. - O que esperam para me dar todas as informações sobre esse rei destruidor da ordem que eu estabeleci, que eu consolidei com tanto sangue de soldados e generais, e cujos cadáveres ficaram secando e misturando-se com a poeira nos campos de batalha ou nos saques das cidades ou nos cárceres dos inimigos… - divagou Herodes, inconformado. - Ah, como me perco em divagações inúteis… dizei-me depressa onde está esse rei, que tudo transformará à sua chegada, que muitos seguirão ainda que o não tenham procurado… dizei-me tudo o que sabeis, antes que me ataque no palácio e me aniquile irremediavelmente… ou invista contra as fronteiras dos meus domínios sem eu ter prevenido as legiões e a cavalaria… e tenha sido colocada vigilância reforçada na hora do seu ultrajante assalto… ah, mas de novo pareço paralizado por ideias terríveis… afinal onde posso encontrá-lo? - interrogou Herodes, a quem todos gostavam de chamar o Grande.
- Majestade, esse rei ainda não nasceu… nascerá no primeiro instante da vigília do canto do galo, num tempo muito próximo - insistiu o rei fenício, com um ar fleumático».
Teresa Ferrer Passos, Anunciação (romance de Maria), Universitária Editora, 2003, pp. 253-254.
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