segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Um olhar de Jorge, o filho louco

Ana Augusta Plácido (1831-1895)

«Olho os lírios brancos (há pouco eram vermelhos) e tropeço com o pensamento no vestido negro ou púrpura de Ana. Entre os seus dedos o charuto de formato cilíndrico e aroma inebrian­te de que não se cansa de tirar fumaças no ar pesado e lento desta terra a esvair-se em cinzas. Esse fumo vibra no meu e­spírito, como se fosse uma condenação maior do que a vida, em que me desdobro sem conseguir esvoaçar um pouco, nem sequer abrir o coração en­sanguentado de gritos.

   espero a libertação. Entre os grilhões de uma biblioteca infinita. Sinto a via para a liberdade pura. Doi-me o pensamento de ver Ana a ficar, de súbito, atónita, lânguida, perversa. Parece-me, cada dia que passa, uma desconhecida, uma figura vagabunda a agredir a solidão dos meus dias sem amanhecer e das minhas noites infindáveis»

Teresa Ferrer Passos, O Segredo de Ana Plácido, Ed. Gazeta de Poesia, 1ª edição, 1995; Ed. Nova Vega, 2ª edição, 2000 (assinou com o ortónimo Teresa Bernardino).

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