Fernando Echevarría (1929-...) acaba de receber o Prémio Literário de Correntes d'Escrita, realizadas no Casino de Póvoa de Varzim. O júri seleccionou o seu livro Categorias e outras Paisagens (512 páginas), editado por Edições Afrontamento, em 2013.
O Poeta Fernando Echevarría nasceu em Santander (Espanha), mas é filho de pai português e mãe espanhola. O seu amor a Portugal reflectiu-se na preferência que sempre deu à língua portuguesa na sua obra publicada. Tendo desenvolvido uma poética de largo fôlego reflexivo, Fernando Echevarría deve o timbre erudito dos seus poemas, em parte à sua formação académica em Filosofia e Teologia.
Por uma coincidência feliz, Echeverría completa hoje 86 anos. Lembremos, num tom de homenagem, palavras proferidas após ser-lhe atribuído o galardão:
«A poesia é um género que exige muita atenção, que exige muita leitura e por isso é que se lê tão pouco. Custa, mas tudo o que custa dá prazer».
Dois Poemas de Fernando Echeverría:
«A solidão é sempre fundamento
da liberdade. Mas também do espaço
por onde se desenvolve o alargar do tempo
à volta da atenção estrita do acto.
Húmus, e alma, é a solidão. E vento,
quando da imóvel solenidade clama
o mudo susto do grito, ainda suspenso
do nome que vai ser sua prisão pensada.
A menos que esse nome seja estremecimento
— fruto de solidão compenetrada
que, por dentro da sombra, nomeia o movimento
de cada corpo entrando por sua luz sagrada.»
In Sobre os Mortos, 1991.
***
Da nossa própria noite se levanta
aquela imóvel espécie de negrura
onde tudo é possível – as galáxias,
ou pulsar nulo de galáxia alguma.
E até a expansão, a criar alta
invisibilidade. Mas que suga,
quanto o assunto for mais denso, a graça
de um maior brio de altura.
E a outra noite pela nossa canta,
não luzes de prestígio, a só penúria
que, quase instrumental, se exerce. Instaura
um dentro fora de dimensão alguma.
E é de aí que a noite se levanta
e o mundo da insistência continua.
in Geórgicas, 1998
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