«Ressuscitou, como disse»...
Qual lírio a ressuscitar em cada Primavera...
Lírios nos campos |
«Jesus disse aos discípulos: "Cumprir-se-à tudo quanto foi escrito pelos profetas acerca do Filho do Homem(...), dar-Lhe-ão a morte. Mas ao terceiro dia ressuscitará".
Eles, porém nada disto entenderam. Era para eles incompreensível aquela linguagem e não entendiam o que lhes dizia»
Eles, porém nada disto entenderam. Era para eles incompreensível aquela linguagem e não entendiam o que lhes dizia»
Lc 18, 31-33
Lírio a desabrochar |
«Chamou os doze e durante o caminho disse-lhes:"Vamos subir a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas que O condenarão à morte e O entregarão aos pagãos para O escarnecerem, açoitarem e crucificarem. Mas Ele ressuscitará ao terceiro dia"».
Mt 20, 17-19
Lírio com lágrimas de chuva |
«Os príncipes dos sacerdotes e os fariseus foram ter com Pilatos e disseram-lhe: "Senhor, lembrámo-nos de que aquele impostor disse, ainda em vida: 'Ressuscitarei depois de três dias'. Ordena pois que o sepulcro seja mantido em segurança até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: ressuscitou dos mortos. E seria a última impostura pior do que a primeira"»
Mt 27, 63-64
Lírio branco com
pétalas abertas, a parecerem asas
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A difícil palavra
«Jesus dizia-lhes: "O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens que O hão-de matar, mas, três dias depois de ser morto, ressuscitará"»
Mc 9, 31
As paredes erguiam-se nas mentes. O flagelo das palavras. A compaixão exposta entre altos muros de silêncio. E, Jesus, ali, aberto, a tocar cada um dos seus discípulos, a tentar arrancar portas e a quebrar o cerco que trava a voz humana. Abria janelas com palavras doces. Respirava o dentro abafado. Insuflava pronto, estoirava na largueza das palavras a fechadura que, para Ele, nunca tivera chave.
E os apóstolos ensurdeciam, imersos em nuvens negras de incerto silêncio. Neles, não passavam as Suas palavras: "Ressuscitarei três dias depois". Depois, Jesus oferecia-lhes, com a voz, todos os espaços, como uma luz sem muros. E, a livre corrente da Sua consciência ensopava-se de repetidas palavras.
A transparência, eclodia como um luzeiro perdido na noite densa a entorpecer, sem palavras. E Jesus repetia com o som das sílabas em catadupa, "Voltarei depois". Repetia. Mas, o mistério, a clarear com palavras de água, sepultava-se à beira dos ouvidos exaustos dos discípulos. Ali Jesus, com tanta verbosidade. O Verbo estava entre eles e não entendiam o que dizia.
O discurso insustentável ficava na memória vazia. E Jesus continuava a procurar. E forjava chaves para portas de palavras, só para as abrir. Com palavras, criava as imagens nuas da Verdade. "E não entendiam o que lhes dizia"...
Páscoa/2014
Teresa Ferrer Passos
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Entre Sexta e Domingo
Conheço bem de mais a sexta-feira,
O fim da luz às três da tarde,
A sombra adunca da figueira
À espera do cobarde.
Conheço o cheiro do vinho derramado,
Misturado com fel e com suor,
E o horror do pão que foi pisado,
E o forno vazio e sem calor.
Conheço bem a hora em que as promessas
São um corpo descendo à sepultura,
A hora absurda em que regressas
Da vida que não foi senão futura.
Conheço bem de mais a sexta-feira,
Mas tanto a conheço que adivinho
Que traz em si a Vida e a Videira
Que voltará a dar-nos do Seu vinho.
12/4/2014
Fernando Henrique de Passos
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A Páscoa Mariana
de todo o coração, a Sua Santidade,
o Papa Francisco
Fui liança, fui a Roma
E fui aos velhos alfarrábios;
Rosacruz, Amor me toma
No sidéreo: são os Sábios.
É Palavra, já caindo
Meigo e meigo tamarindo,
És o si, o Santo e sina
Em cidade Bizantina.
És a Mãe, Tu és Madrinha,
Mansa, mansa Ela me chama,
E Tu voas, andorinha,
Numa plaga Franciscana.
Diva é Deus, a mim oblata
A minha prece: «Maran Atha»,
Que és o rio, Tu és a ria
E um só nome: Maria.
Queluz, 07/ 04/ 2014
MISERANDO ATQUE ELIGENDO
Paulo Jorge Brito e Abreu
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A Páscoa em cada dia de Jesus
Cada dia, no despertar das horas,
no pulsar das tardes e das manhãs,
Jesus bebia a sua Páscoa...
No acto simples de um almoço.
No bom-dia ao camponês.
No agradecer de uma ceia.
Eram dias sempre novos.
A cada instante uma semente germinava,
um botão de rosa vermelha incandescia
na folhinha protectora.
Eram dias cheios de trigo no pão.
E também, dias com gemidos de mãe aflita
com a filhinha doente.
As sandálias de correias largas calcorreavam
os pés e o peso das palavras a ecoar no vento
da sua memória de cruz.
Entre ervas ruins, os passos de Jesus
enterravam-se como num túmulo vazio.
Porém, dava um sorriso coberto de Páscoa
ao desamparado que tinha fome,
fome de ver porque não via.
A sua túnica dividia-a com as lágrimas dos paralíticos
a esperarem a redenção das caminhadas.
E aí fazia nascer a Páscoa como um templo de alegria.
No olhar, Jesus transportava Páscoa, a viver intensa
entre os lírios contorcidos
em tons de lilás e de branco.
Nesse suave tecido, nessa doçura infinita,
nessa fragrância, que nem Salomão
com toda a sua riqueza envergava,
Jesus via a humildade como a coisa mais bela
e a simplicidade sem tempo algum,
sem fim,
à beira da Verdade que não morre
e a ser a nova Páscoa como Jesus...
3 de Abril de 2014
Teresa Ferrer Passos
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Páscoa
Jesus todos nós somos,
Ao acordar todo dia,
Desde uma noite de sono,
Ou da grande anestesia.
Jesus é cada manhã,
Cada aurora, cada trigo,
Cada estação renovada,
Cada uma forma de vida.
Jesus é vento, canção,
Cada pingo de orvalho,
Cada lágrima não contida.
Voltar à criança, na fé,
Do símbolo que se renova
Num ovo de chocolate.
Luiz Martins da Silva (Brasil)
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