domingo, 29 de outubro de 2023

DOIS POEMAS

APORIA
 
O paradoxo é fértil e floresce
E assusta o mundo
E é de noite que amanhece
E quanto mais tarde mais fecundo.
No dia em que a luz amou o nevoeiro
Abriu-se uma janela no destino
Por onde entrou de supetão
Uma rajada de ar frio e cristalino.
Um frio de fazer forte o mais cobarde,
Um ar cristalino onde vibrava Cristo,
Um novo destino dizendo: “Não é tarde
Para tudo correr como previsto.”
O nevoeiro, amado, fez-se luz,
Igual à luz da sua amada,
E o amor de ambos não sabe o que é o fim
Pois quem tem tudo não tem medo do nada.
 
29/10/2023
                           Fernando Henrique de Passos

*

INFINITO OLHAR

 «Tornei-me semelhante ao pelicano do deserto;
sou como a coruja nas ruínas abandonadas
não consigo dormir e suspiro;
sou como um pássaro solitário sobre um telhado»
Salmo 102, 7-8
 
nas arribas do mar olho a voz da espuma.
Que voz desconhecida,
que voz de silêncio, imperturbável.
Que voz inesperada agita súbito
o meu coração desvairado e num torpor
só semelhante a um animal perdido e sem alento.
Sinto a espuma em flocos cair sobre os meus olhos
e vejo nela a eternidade toda a transfigurar-se
no teu infinito olhar.

29 de Outubro de 2023
                         Teresa Ferrer Passos



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