quinta-feira, 25 de maio de 2023

UM POEMA

RESTAM OS PÁSSAROS...


os pássaros cantam nesta manhã sob o azul das nuvens
e trinam curtos gorjeios a soarem àquela paz que conhecem bem
não tão bem como nós a conhecemos.
Sem demover os ruídos contínuos que deslizam e se misturam
nas ruas encavalitadas umas nas outras
e nos ensurdecem com buzinas frenéticas de ambulâncias
em busca de lugar num hospital sem macas
para receber um doente com o coração num silêncio
súbito, são indiferentes aos motores
das escavadoras de uma obra inacabada
às motas clamorosas demais e aos camiões
carregados de tóxicos metanos a transportar o perigo
à cidade. À cidade cansada de ouvir ensurdecedores
interrogatórios à procura da discórdia
com frenéticos gritos de gente à espera
de um momento de glória sob ávidas câmaras de televisões
ou rádios a vibrarem o desassossego que irradiam
as suas multidões de comentadores, de analistas e de especialistas.
Todos nada mais fazem do que criar situações ridículas
amesquinhar as criaturas apanhadas no laço dos sofismas
num espetáculo teatral que  faz todos os dias mais suspeitos,
mais caricaturas de humanos a escorregar nos passeios
envernizados de palavras a transpirar frustrações e mesquinhez.
Difundem-se as vozes a explodir raiva, a ardência chega à exaustão.
E que acontece? Nada. Porque aqui falta a ideia ou o simples sonho.
As vozes desencontram-se. Onde repousa o pensar?
Então que resta? Os pássaros para lembrar 
o caminho da paz.

26 de Maio de 2023

Teresa Ferrer Passos

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