terça-feira, 11 de abril de 2023

NOTA DE LEITURA SOBRE O LIVRO «O PORTUGUÊS VISTO POR (ALGUNS) PORTUGUESES» DE MARCELLO DUARTE MATHIAS (Editora D. Quixote, 2022)


 

O Autor chama Introdução, àquilo que é muito mais do que uma Introdução. Trata-se de um Depoimento sobre o tema da Identidade de Portugal ou mesmo da identidade pátria, nos conturbados tempos destas últimas décadas. A vivência da Portugalidade, como diria Afonso Lopes Vieira, sobretudo após a adesão de um país pós-revolucionário à Comunidade Económica Europeia, tem sido muito questionável. Adesão rapidíssima, mal estruturada ainda estava a nossa nova identidade nacional. A unidade política começava a diluir-se numa grande comunidade chamada União Europeia. Facto incontornável. As palavras de Marcello Duarte Mathias revelam que a pátria portuguesa ainda não se reconstruiu, ainda está perdida num naufrágio sempre iminente, sempre previsível, perante os olhos estupefactos dos políticos e dos, não menos estupefactos, do povo. A questão é estarmos perante uma pátria amortecida, a descrer das soluções à vista e a submeter-se a um destino pobre que parece não ter remédio. Entrámos numa União Europeia para nos socorrermos da perda das colónias, continuamos a querer socorrer-nos da propaganda e dos interesses partidários que têm o objetivo de conquistar o poder, mais do que servirem os Portugueses. Destaco, por fim, uma referência do Embaixador Marcello Duarte Mathias às sequelas da Ocupação Filipina de 1580 a 1640, pelo decorrente enfraquecimento do tecido nacional (pp. 47 e seguintes), já muito afetado pela pesada derrota em Alcácer-Quibir. E a análise de M.D.M. aborda, a finalizar, um ponto que considero fundamental para que se crie um novo rumo no nosso país, um rumo em que o povo não continue perdido da coesão indispensável a uma nação soberana e não subserviente perante a globalizante União Europeia, com que não nos identificamos senão por imitação ou por não ver outra saída para sobreviver. Cito o embaixador Marcello Duarte Mathias: «(...) o que importa acima de tudo é estar na História e não sair dela. E ter vontade para tanto, ciente de que não há legitimidade no plano internacional superior à da soberania nacional, e ao mesmo tempo restaurar o Estado-Nação que constitui, face a uma sociedade civil ainda incipiente, a nossa melhor proteção coletiva, tendo sido aliás a nossa moldura institucional durante séculos» (p. 56).

Teresa Ferrer Passos

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