sábado, 29 de outubro de 2022

A propósito do 29º aniversário do nossa namoro


SEM PALAVRAS


uma cidade ergue-se nas colinas
desavindas com a tua doçura ardente de mago.
a cavalgares um destino abundante de inclemência
descobres-me um dia a tropeçar em desditas
a apagar-me em sementes envelhecidas
a não ter sentido algum numa terra
a evadir-se de si
sem palavras de amanhã.
Foi a hora. O meu amanhã nasceu.
Era a hora da tarde.


29 de Outubro de 2022
                                                Teresa Ferrer Passos

***

UM BOSQUE NO OUTONO

A cidade que eu via como triste e feia
Albergava uma donzela
Bondosa e bela.
E eu vi-a e amei-a.
 
E dos canteiros de lírios espezinhados
Nasceram rebentos de arbustos que cresceram
E num dia se fizeram árvores que aprenderam
A dar frutos no Outono, redondos e dourados.

E a cidade tornou-se um bosque colorido
Pela magia da donzela boa.
A cidade é a vida, além de ser Lisboa,
E a vida desde então passou a ter sentido.
 

29/10/2022
                                       Fernando Henrique de Passos

UM POEMA

 SILÊNCIO INÉDITO


no momento estranho do silêncio
crescem raízes amargas como fel,
surgem árvores e ervas no pinhal
no momento estranho do silêncio,
as farpas atravessam as inter-redes da quimera
e cravam-se no peito brando do inocente
de coração prenhe de ingenuidade e bem querença
no momento estranho do silêncio
quebram-se os grilhões, abate-se a espera
e a vida ainda com explosões de verdade
sussurra devagar crepita ainda
num fogo já apagado

29/10/2022 (poema acabado de escrever)

Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

MEMÓRIA


O Professor Adriano Moreira (1922-2022) cuja morte nos surpreendeu, apesar de já contar 100 anos de idade, marcou a política portuguesa com chave de ouro. Sem dúvida que o autor de «Ciência Política» (1979) e de «O Novíssimo Príncipe» (1977), ficará na história como um grande teórico português do pensamento político. Atravessando dois períodos antagónicos de governação em Portugal - o regime do Estado Novo e o regime instaurado em 25 de Abril de 1974 - soube manter uma coerência e uma integridade de ação político-social exemplar. O seu nome manter-se-á vivo para além dos séculos XX-XXI em que viveu! Por isso, estará sempre perto de nós.

24 de Outubro de 2022
Teresa Ferrer Passos

domingo, 23 de outubro de 2022

A PROPÓSITO DO DIA MUNDIAL DAS MISSÕES



Uma breve passagem de «São Joaquim, uma alma à procura de Deus» de Teresa Ferrer Passos, obra ainda inédita:

«Pregava, sem rodeios, desassombradamente, com uma expressão de aramaico culto, as frases curtas, o pensar rápido, tudo era proferido com autoridade. Falava das virtudes, dos bons costumes, da pureza de alma, do desprezo dos bens materiais, da perseverança, mesmo no meio do sofrimento, pois este decorria da precariedade e do caráter efémero da vida e trazia, em primeiríssimo lugar, a recompensa de se descobrir mais do que nunca na presença de Deus; o caminho certo era a esperança que conduzia à serenidade; a grande alegria do ser humano era a fidelidade a si próprio e ao seu próximo.»

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

POR OCASIÃO DO MEMORÁVEL 200.º ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, EM 7 DE SETEMBRO DE 1822

Excerto de um artigo que publiquei no «Diário de Notícias», em 26/6/1988, sob o ortónimo de Teresa Bernardino:


"Em 1822 rebentou uma revolta contra o domínio português, que D. Pedro conseguiu dominar, e, no mês de Abril, o jornal Revérbero propôs ao Regente que fosse “o fundador do novo Império”. Pouco depois, a Maçonaria com o apoio do Senado e do Conselho de Procuradores-Gerais das Províncias ofereceu a D. Pedro o título de Protector e Defensor Perpétuo do Brasil, que ele aceitou a 13 de Maio, dia do seu aniversário.

A agitação nas províncias era incrementada pelo confronto entre os partidários da autonomia (personificada por D. Pedro) e aqueles que desejavam obedecer às determinações das Cortes Constituintes da metrópole. O Brasil estava dividido entre as duas facções, sendo a mais popular contrária à Assembleia Legislativa de Lisboa, que só humilhava a tão venerada emancipação. Eram recebidas como ordens afrontosas a continuação de D. Pedro como “Regente até à publicação da Constituição, mas sujeito ao rei e às Cortes” e a instauração de um processo ao governador de S. Paulo por ter pedido a permanência do príncipe no Brasil.

As instruções das Cortes de Lisboa foram interpretadas como uma interferência abusiva no poder do regente por vários conselheiros, que o consideraram mesmo “prisioneiro das Cortes”, instituição que mostrava tentar “escravizar o Brasil”.

Era o dia 7 de Setembro de 1822 e D. Pedro encontrava-se nas proximidades do pequeno rio Ipiranga quando alguns emissários lhe deram conhecimento destas últimas decisões oriundas de Lisboa. Resolvido a não continuar sob a tutela da revolucionária Assembleia liberal portuguesa, D. Pedro proclamou a ansiada “Independência ou morte”, que o iria ascender a primeiro Imperador do Brasil. Aclamado e Coroado Imperador na Capela Imperial do Rio de Janeiro, no dia 12 de Outubro de 1822 (o príncipe dera o mais lato sentido à decisão tomada a 9 de Janeiro de 1821, pela qual desobedecia às Cortes, ao ficar em terras do Brasil).

Em carta justificativa desse ato, afirmava que se saísse do Brasil, logo este se tornaria independente, enquanto se ele aí permanecesse, o território não se separaria de Portugal. A sua convicção maior era a de que a força das armas não podia impedir a independência, mas sim “o comércio e o brio da reciprocidade”, porque ambos “são as duas molas reais sobre que deve trabalhar a monarquia luso-brasílica”.

A ideia de conservar a ligação entre as duas Cortes é incontestável em numerosas cartas dirigidas pelo Imperador D. Pedro I a D. João VI, mas as fortes pressões internas por parte de instâncias políticas e sociais, a prepotência das Cortes constitucionais, que procuravam retirar ao território a autonomia alcançada ao longo da permanência de D. João VI na colônia, as honras e os títulos que os brasileiros lhe outorgaram, com o cognome de Defensor Perpétuo do Brasil, foram os principais fatores da mudança. Esta está patente nas cartas posteriores ao mês de Maio de 1821. Era, de fato, inegável o seu exultante entusiasmo ao escrever que tratava os brasileiros não só como fi lhos “como V. M. me recomendou, mas também como amigos”.

Noutra passagem nota a necessidade de não inverter a evolução que os tempos e as conjunturas provocaram: “Sem igualdade de direito em tudo e por tudo, não há união”. Nessa disposição de espírito, propunha-se defender os direitos dos brasileiros, se necessário com o seu sangue “que não corre senão pela honra, pela Nação e por V. M.”. Para fundamentar a insubmissão perante as Cortes, escreverá ainda sobre a sua adesão à causa da “colônia”: “Não sou rebelde, como hão de dizer a Vossa Majestade os inimigos V. M., são as circunstâncias”.

O grito do Ipiranga culminara um longo processo não iniciado em 1820, como muitos afirmam, mas remontando à chegada de D. João VI e toda a Corte portuguesa ao Atlântico Sul. A revolução de Agosto de 1820, se trouxe a vantagem de fazer regressar o rei à Metrópole, teve na sua essência e como objetivo maior, recuperar os mercados brasileiros, tão preciosos à burguesia portuguesa (importação-exportação). Este móbil tornou as Cortes constituintes gravosamente hostis à comunidade brasileira, que já não podia aceitar a perda da larga autonomia política ou a fuga dos valores econômicos que estavam a fazer prosperar aquele extenso e rico domínio português.

A exigência do regresso do príncipe-regente, escolhido pelo rei de Portugal, numa difícil conjuntura interna do Brasil, em parte aderente às revoluções autonomistas e republicanas da América do Sul, foi o detonador de uma situação insustentável, quer para Portugal, quer para o Brasil.

Sem poder lutar contra as circunstâncias, como escrevia o Imperador D. Pedro I a seu pai, conseguiu, no entanto, não provocar o ódio ou até levantamentos de armas contra a Pátria lusa, que no ano de 1500 começou a desbravar e a engrandecer a futura grande nação da América Latina. Longos anos de permanência naquela terra promissora, deram a D. Pedro I a noção exata do seu glorioso porvir que ele quis ajudar a edificar.»


A MORTE DA RAINHA ISABEL II (8 de Setembro de 2022):

A Rainha Isabel II, uma mulher com uma personalidade fortíssima manteve-se igual a si própria durante 70 anos de reinado e 96 de vida; ainda incansável, apesar de já muito enfraquecida, na véspera da sua morte cumpriu ainda as suas funções - como ela diria o seu dever - de soberana, ao dar posse à nova Primeira Ministra do Reino Unido. Um exemplo de vida a recordar!


9/9/2022
Teresa Ferrer Passos

UMA GUERRA NUCLEAR GLOBAL?

1.

Estaremos à mercê de uma política internacional desvairada?
Não haverá uma incipiente, abúlica e até suicida política diplomática a favor da paz por parte da União Europeia e dos EUA, depois da Rússia ter iniciado uma operação militar contra a Ucrânia (24/2/2022)?
Onde repousam as sempre possíveis diligências da Diplomacia do Ocidente para pôr fim à guerra?
Uma retaliação nuclear para responder a um ataque nuclear da Federação Russa é a solução para o Ocidente?!

2.
"Após sete meses de hostilidades na Ucrânia, sejam usados todos os meios diplomáticos, mesmo aqueles que até agora eventualmente não foram utilizados, para pôr um fim a esta terrível tragédia. A guerra em si é um erro e um horror!" (Papa Francisco in Twitter, 2/10/2022)

3/10/2022 (in Facebook)

Teresa Ferrer Passos

NO 1º CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DA GRANDE ROMANCISTA PORTUGUESA AGUSTINA BESSA LUÍS (1922-2019):

 

Agustina Bessa Luís na sua casa do Porto

"É do rigor para com nós mesmos que nasce a crueldade para com os outros. Do abismo da culpa nascemos para o abismo da justiça. S. António era uma natureza subtil; fiel com as pequenas coisas, tornava-se por isso pacífico nas paixões; instruído de si próprio, não temia as surpresas, não combatia com inimigos obscuros. As nossas lutas são travadas com o que se ignora. Toda a vida de António resplandece de tranquilo saber e de inocência no saber."

Agustina Bessa Luís, "Santo António", Guimarães Editores, 1973, pp.118-119.