«Magnificat»
«Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E, eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrêlas pestanejam frio,
impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará êste drama sem teatro,
Ou êste teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, quem tens lá no fundo?
É êsse! É êsse!
Êsse mandará como Josué* parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!»
E, eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrêlas pestanejam frio,
impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará êste drama sem teatro,
Ou êste teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, quem tens lá no fundo?
É êsse! É êsse!
Êsse mandará como Josué* parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!»
*Josué, sucessor de Moisés na conquista da terra de Canaã, no dia da vitória dos israelitas sobre os amorreus e os seus reis disse: "Sol, para sobre Gabaom! / E tu, ó lua, sobre o vale de Aiaom! /O sol parou, / e a lua deteve-se, / até o povo se vingar / dos seus inimigos, / como está escrito no Livro de Jasar (do Justo)."
«Obras Completas de Fernando Pessoa - Poesias de Álvaro de Campos», Edições Ática, Lisboa, 1944, pág. 296 (este poema foi escrito em 7 de Novembro de 1933).
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