POEMA BRANCO
Dou-te um poema branco
Como um vasto deserto antártico de neve
Intacto como uma noiva virgem
Angustiado como a folha de um escritor em dia-não
Como o deserto de um Rei que não tem súbditos nem terras
Como o nada que vai das ameias do castelo até ao horizonte
Há muitos anos começou a nevar nos jardins do Paço
A neve cobriu a terra estéril
O gelo entrou pelas fendas que faziam de janelas
A água correu pelas paredes interiores
E o primeiro Inverno desse Rei foi duro
E o Rei foi velho aos vinte anos
E subiu ao cimo da torre mais cimeira
E pediu a Deus que o levasse
Mas Deus mandou-lhe o sono
E o Rei sonhou com neve
Sonhou um vasto deserto antártico de neve
Que se estendia pelo espaço todo
Até não haver estrelas
E o branco era frio e duro e era nada
Mas as lágrimas do Rei caíram sobre a neve
E o seu calor fez derreter o gelo
Aonde caíam por acaso
E o deserto foi vendo despontar
Pequenos tufos verdes
Que se reproduziam sem parar
Dando lugar a novos tufos verdes
Até formar uma larguíssima passadeira verde
Até ao Infinito
Até ao Céu
Por onde chegaste tu, Princesa,
A decompor o branco
Do vasto deserto antártico de neve
Fazendo nascer dele as tantas cores
Que agora enchem a vida tua e minha.
5 de Novembro de 2019
Fernando Henrique de Passos
***
NOVÍSSIMO SOL
nas cores do outono construí um mundo
cercada de flores
e a primeira foi a tua rosa.
ergui-a em altares de perfumes ímpares
e nas tuas mãos acesas de fogo
crepitou o amor a romper o céu
a romper os dias a quebrar os espinhos
a arder sem parar.
e os dias enormes pareciam-se anos
e os anos pequenos abriam-se eternos.
aqui já na terra
aqui já no céu
novíssimo sol abraçou-nos enfim
e uma tenda impossível ergueu-se para nós.
5/11/2019
Teresa Ferrer Passos
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixe aqui o seu comentário