terça-feira, 23 de julho de 2019

Angústia



a espera parece uma eternidade. Estamos num quarto de hospital. Bebo o cálice da angústia ao ver as tuas veias doentes à espera da cirurgia.

O calendário, perdido da hora marcada, atormenta-nos demais. O fim da tarde começa a cair.

A noite não tardará.
O sol desaparecera já, quando bateram à porta. Chegavam os maqueiros. Saíste.

Cresce agora a minha angústia. Separados ficamos. Transporto o peso da tua cirurgia como se fosse um rio de sangue e de vida.

A noite rompe a minha solidão e tremo de medo. Não há estrelas numa noite de dúvida.

Não há paz num coração assustado. O dia liberta. A noite enclausura a própria solidão em que me sento agora.

E espero uma notícia, mesmo adiada. Espero.

É quase meia-noite. Quanto tempo mais vou esperar para te receber no quarto do hospital? De súbito, um ruído na porta alerta-me.
É a tua chegada.

Enfim, a luz brilha agora como se fosse dia. Onde está a noite?
Tudo se ilumina em mim.

E vejo o teu olhar como se fosse inundado da sede de chegar. 

Apagada a noite, os minutos e as horas estão ali de novo.

Há tempo. Nem sombra da eternidade.

19/Julho/2019
Teresa Ferrer Passos

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