Aqui publico um texto que escrevi em 1998,
numa Pequena Homenagem a Madre Teresa de Calcutá,
neste dia 4 de Setembro de 2016,
em que é Canonizada pelo Papa Francisco
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Madre Teresa de Calcutá com os pobres |
«Tive fome e deste-me
de comer»
Jesus Cristo
Missionárias da Caridade - uma Ordem Religiosa fundada por Madre Teresa de Calcutá,
em 1950. Por estes anos do Pós-Guerra, o pobre
torna-se o centro das preocupações da sua fundadora.
Missionárias em busca dos que sofrem para lhes dar mais do que alimentos
para o corpo, também alimento espiritual de que não eram menos carecidos.
Cinquenta anos decorreram desde o lançamento deste projecto de ligação ao pobre
- «no pobre, Cristo é pobre».
A entrega das Missionárias da Caridade ao serviço dos pobres significa
que no pobre Cristo, vivem. No pobre - o pobre que significa aquele que
precisa de pão, mas que está igualmente ávido de apoio espiritual - está o Cristo vivo, o Cristo a viver
connosco todos os dias sem que demos pela sua presença.
Numa sociedade mundializante e todos os dias a criar novos reforços para
a totalização dessa mundialidade (vivemos, no momento, o exemplo da União
Europeia), a Ordem das Missionárias da Caridade não perdeu o sentido, não se
tornou mais uma congregação humanitária; pessoas como as Missionárias fundadas
por Madre Teresa de Calcutá são progressivamente mais necessárias.
A sociedade da abundância,
provocou uma explosão de pobres (a quem
nem sequer se inclui entre as estatísticas dos desempregados), envergonhados,
silenciosos, que nada reclamam, a quem algumas horas em serviços a prazo ou sem
contrato consolam da sua desdita. O que na verdade esses pobres se julgam é
inábeis, incapazes de saber viver (a par dos empregados sempre vistos como os
mais aptos, os bem sucedidos).
Pelas Índias das castas, às quais os miseráveis não repugnam; pelas
Áfricas em que as crianças subalimentadas são o espectáculo masoquista e, em
simultâneo, motivo da indiferença dos que, na certeza da segurança, não se
interessam pela incerteza do futuro dos outros (designadamente os Estados
poderosos); pela Europa das Uniões Económico-Financeiras, ufana de um
igualitarismo propagado até à exaustão em que explodem promessas eleitoralistas
ou para-eleitoralistas de novos empregos e de mais trabalho para todos - por todos os continentes, em suma,
grassa a hipocrisia dos governos ao serviço e a servirem-se dos grandes grupos
capitalistas e das maiorias populares.
Em todo este mundo, sem compreender a sua própria realidade social, nem
sequer tentar auscultar-lhe as deficiências lesivas das minorias sem ruído, há
uma frenética ânsia de dar a imagem de um planeta a caminho do progresso, sem
recuos ou máculas - um
progresso fundado na esperança ou na espera de mais segurança, mais emprego,
mais abundância e bem-estar social.
Em Portugal os exemplos abundam: novos cursos superiores, mais
democratização do ensino com a abertura de mais vagas, mais escolas, mais,
sempre mais vias para mais postos de trabalho. «O emprego espera por vós»,
parece ser constantemente afirmado. E
todos, todos têm a espera, talvez uma esperança vã pela frente.
Escritores um pouco por todo o mundo e, mais perto de nós, nos países da
Europa de que fazemos parte - e refiro-me àqueles que ainda pensam, são capazes de olhar o outro,
ou aquele que passa a seu lado, sem
se deixarem vender às maiorias dominantes e, não raro, dominadoras (as
ditaduras surgem das maiorias que esmagam as minorias, em vez de as libertarem)
- estão a alertar para o perigo de se
estar a enganar o tecido social da
maioria votante (que dá o voto para ser governada, na espera de dias melhores,
como lhe prometem), com toda uma falaciosa realidade que já nada tem de real. Trata-se de toda uma propaganda
política ligada aos grandes monopólios económicos mundiais - privados e dos estados -, sempre a intervir com a reafirmação
da criação de mais emprego. A
verdade é que tudo isto não passa de uma falaciosa esperança. O emprego será
cada vez mais desnecessário num mundo profusamente maquinizado, tecnicizado.
A viabilidade de conseguir mais trabalho para todos os que ainda estão à
espera, é praticamente nula, se essas margens que são já milhões de pessoas em
termos mundiais, não fugirem ao esquema actual do sistema e àqueles que se
preparam para manter esses indigentes do trabalho - silenciados, como numa culpabilização
generalizada pelos insucessos individuais.
Nasce, assim, uma das maiores injustiças sociais da época contemporânea:
a desigualdade camuflada de igualdade; a submissão ocultada sob uma pretensa
liberdade; a oligarquia plutocrata e a ditadura
mascaradas de democracia.
Neste contexto mundializante (e
que se estende cada vez mais a Portugal), Madre Teresa de Calcutá e as suas
Missionárias almejaram um sentido mais vivo e mais fundo. Resta, aos que sofrem
na desilusão e na descrença de si próprios, ainda quem se coloque do seu lado,
como as Missionárias da Caridade. Mas
outros estão a usar outros meios: a palavra escrita e propagada através do
livro.
A situação não está a passar-se sem que haja quem se aperceba da farsa
social que são, designadamente em Portugal, as chamadas Acção Social, Segurança
Social, Luta contra a Droga ou as leis favoráveis à desagregação da família - edifício ético sobre o qual deve
assentar uma sociedade psiquicamente saudável.
As Missionárias da Caridade que Madre Teresa de Calcutá dirigiu até à
sua morte, em 1997, estão, não no mundo,
mas num mundo incluído num outro mundo, que não está perplexo,
que não está a fazer uma autocrítica dos seus actos, mas que apenas procura
ludibriar a situação degradante de muitos indivíduos. É um facto que «vendeu a
alma» ao poder.
Afirmava Madre Teresa: «Se não estivéssemos profundamente convencidas de
que Cristo permanece oculto no rosto dos deserdados deste mundo, a nossa Missão
não se justificaria». A situação é grave. Na verdade, as consequências psicológicas
e morais (o suicídio e as doenças mentais), atingem indivíduos, ou seja, pessoas, que se distinguem de massas anónimas.
O cidadão, ou é considerado por si próprio ou a sociedade perde o seu
sentido essencial. O Poder não pode
ter em vista apenas fins, sem olhar aos meios, sob pena de se tornar imoral.
Teresa Ferrer Passos