sábado, 25 de agosto de 2012

Aparências




Quantas máscaras, quantas à nossa volta,
rodopiam imparáveis, sedutoras
e mascaradas com os seus próprios disfarces.

Como gargalhadas, as máscaras vibram no nosso coração
descompassado pelo espanto.
Julgam enganar-nos com as suas tribulações.

Como se rolassem num espaço sem entraves,
as máscaras possuem o gosto da mentira
mas aparentam sempre dizer a verdade.

As máscaras passam por nós todos os dias,
passam sem se deformarem,
alardeando a sua inocência fingida.

Brilham as máscaras como sóis,
envelhecem sem uma ruga
e lançam jogos de proveitoso cinismo.

Nas máscaras não crescem canteiros de flores
nem vemos jardins a desenharem corações.
A cada hora, constroem as suas metamorfoses.

Nas máscaras, as emoções confundem-se
com a razão submissa e atónita,
em gritos labirínticos a que falta a verdade.

Nas máscaras, a verdade some-se sem deixar rasto.
A verdade em  destroços deixa-se esmagar
nas garras espetadas de egoísmo.

Nas máscaras tudo se consome e desperdiça.
Crescendo ao lado das máscaras,
a verdade entoa hinos de solidão.

Envolta pela máscara coroada
com falsos diamantes, a verdade
definha e tomba na terra seca.

Sob a fantástica máscara, vive-se  na cidade.
Rostos cobertos de gestos e sons absurdos
cravam o exagero do artifício sobre o real.

A imagem inocente vive na sombra das máscaras.
Possuindo em si toda a verdade, vemo-la apagar-se
devagar nos dias abafados e sem sol.

Teresa Ferrer Passos

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