quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

NATAL / 2025

 

Presépio  (ALDEPA, Alcantarilha)


À PAZ

Em grinaldas de flores secas está a paz.
Em troncos de pinheiro a crepitar na lareira
Em flocos de neve a descer entre o nevoeiro
No frio dissipado no aconchego do afeto.
A paz está onde nasce a alegria de oferecer,
A graça de não ter de fugir para viver,
De não ter de defrontar a morte para fugir à morte,
De salvar inocentes em vez de fazer deles a pira de culpados.
O fogo das chamas das torres apagou-se com água suave.
No incêndio dos corpos injustiçados a paz está
A brotar. Só com injustiças em nome da paz, se desvanecerá.

Teresa Ferrer Passos, Retábulo, Universitária Editora, 2002, p.28.


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DE UM NÃO LUGAR OU DO ESPÍRITO



Post de Fernando Henrique de Passos in Facebook em 11/12/2025 


«O "dentro de vós" pode querer significar que o Reino de Deus se não vier de dentro de nós ninguém o pode viver porque aquilo que não passa pelo nosso 'eu' não pode existir verdadeiramente. Como diz Jesus, "o Reino de Deus não vem com aparência exterior", ou seja, é de ordem espiritual e não algo que é idêntico à matéria que é aparência e, por isso, que é exterior. O Reino de Deus será, assim, de uma outra natureza, uma natureza que é ainda hoje um mistério indecifrável para a ciência.»

Comentário de Teresa Ferrer Passos in Facebook em 14/12/2025

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AS ORIGENS DO NATAL

 “Que cansaço estar sempre aqui em cima –
Os seres humanos parecem-me formigas,
As formigas parecem-me micróbios,
E não tenho amigos nem amigas.
 
Gostava de poder brincar –
Às escondidas, por exemplo.
Ninguém me ia encontrar
Se me escondesse no meu Templo
 
Gostava de não ser omnipotente –
Ter de pedir que me levassem pela mão
A ver o sol poente
No final de uma tarde de Verão.
 
Gostava sobretudo de ter mãe –
Que me passasse a mão pelos cabelos com meiguice,
Mas que me ralhasse também
Se eu fizesse uma tolice.
 
Gostava de não ser omnisciente –
Não conhecer o meu destino
E só saber que tinha de ir em frente.”
 
… E assim Deus se fez menino.

Fernando Henrique de Passos, Breve viagem nas margens do mistério, Hora de Ler, 2018, p.12.


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«'Maria é bendita entre todas as mulheres'. Maria é bendita porque nasceu sem pecado. ela foi escolhida por ser a Mãe, por dar carne a Deus, e dar carne a Deus, não é uma bênção?»
(...)
«Mãe de Deus é o título mais importante da Virgem. (...). Maria é Mãe de Deus. Devemos estar gratos porque nestas palavras há uma esplêndida verdade sobre Deus e sobre nós: desde que o Senhor incarnou em Maria, desde então e para sempre, ele trás a nossa humanidade ligada a si. Já não há Deus sem o homem: a carne que Jesus tomou de sua mãe é também sua agora, e sê-lo-á para sempre» 

Papa Francisco, Avé, Maria, Bayard Éditions, 2019, pág.s 41-42 e 85.

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OS TRÊS PASTORES-MENINOS

Nossa Senhora desceu da sua nuvem
E caminha no meio das flores.
O pólen vem dourar-lhe os pés descalços,
As abelhas poisam-lhe nas mãos.
O seu sorriso dissolve-se na música
Que se desprende das pregas do vestido
A ondular na luz que tudo envolve.
Os três pastores-meninos esqueceram as ovelhas.
Os três pastores-meninos abriram muito os olhos.
Os três pastores-meninos respiram devagar,
Avançam de mansinho em direção à Mãe.
Os três vão de mãos dadas,
Os três pé ante pé,
Os três julgam sonhar.
Mas nunca tinham estado
Tão perto de acordar.

Fernando Henrique de Passos, «Ecos abaixo do audível», Leiria, Hora de Ler, 2020, pág. 54.

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HORIZONTE BAÇO


A voz da chuva não entoa hinos sacros
nas ruas sem luzes de Natal.
Parece um trovejar de vozes
assustadas, temerosas do futuro que desconhecem.
A voz da chuva perde-se no horizonte baço
como se fosse um martelo sem bigorna
ou um pequeno peixe a querer dizer Jesus
e a querer significar apenas divino.
A voz da chuva ouço-a devagar
com um sentido único, semelhante ao meu olhar parado
aos meus caminhos desencontrados
à minha perda de rumo
ao abismo ante uma
montanha perdida de si.

Natal, 24 de Dezembro de 2025

Teresa Ferrer Passos

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A MAGIA DO NATAL


Ajoelhei-me aos pés do Deus Menino. Implorei que me ajudasse. O Menino fez-me levantar e falou com um sorriso: “Tudo está nas tuas mãos, só tens de querer e crer.” Então a Paz desceu sobre mim quando entendi o que Ele quis dizer. 24/12/2025 Fernando Henrique de Passos

                                  *
STABAT MATER

Mãe, vemos-te inscrita no céu azul e róseo,
a desceres do Paraíso com a luz de todas as estrelas.
A tua imagem transparece como um castiçal de mil braços.
E desces devagar, oferecendo mantos de amor às gerações.
Aqui, solitárias, à beira do desespero, elevam os olhos sedentos,
sedentos do teu amor de Mãe, cheia de compaixão.
E, escorre do teu regaço, uma misericórdia igual à de Deus.
Num instante, descobrimos o teu coração de “mater dolorosa”,
sentimos a doçura do espírito que te habita,
mesmo ainda aqui, ficamos deslumbrados, Mãe divina.
Como estendes as mãos suaves sobre as nossas faces,
com que tamanho alongas o olhar para os nossos olhos.
O teu sorriso sereníssimo, penetra-nos até ao coração.
Mais do que tudo, ó Mãe de Deus, falas conosco como se fosses
a mãe mais humana que conhecemos no mundo.
E pedes a nossa devoção como se te fizessem falta as nossas palavras,
falas-nos de teu filho, Jesus, de tal modo, que chegamos a vê-lo a chorar.
Será porque ainda percorre a via sacra de uma Redenção (sempre)
inacabada?»

Teresa Ferrer Passos, Stabat Mater, Hora de Ler, 2020, p.9.

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Um Natal no AMOR DE JESUS
e um Ano Novo com muitas alegrias

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