sábado, 28 de junho de 2025

UM POEMA


CAMINHO ERRÁTICO


malmequeres amarelos tombam na jarra
a transparecer de vida.
a sede murchou as pétalas pequeninas
a vibrarem ainda as raízes
perdidas de si pela bruteza dos segadores do campo.
um campo abandonado. olho-os sem palavras.
porque as palavras perdem-se no estremecer
da minha voz cansada de sonidos inaudíveis e fechados.
a minha voz recua como o coração
de uma criança submissa ao sol  que a contempla nos dias 
encurralados em nuvens de calor.
a minha voz comprime-se perante o sortilégio.
amortecida. sem firmeza. rouca
e ainda a prosseguir um caminho oculto. errático.
então como uma trovoada sem relâmpagos 
comparo-me a um penhasco perdido do fresco mar.
esse mar espelho de diáfana folhagem.
esse mar de memórias apagadas só a sobreviverem
nas esquinas das ruas onde se inscreve
o som de um nome que ninguém conhece.
 
28/6/2025

                            Teresa Ferrer Passos

sábado, 21 de junho de 2025

UM OUTRO POEMA:


ESTRELAS DESAVINDAS


na seiva dos lugares ardem crateras nas almas 
abertas sem ruído. À sombra da noite de sirenes imparáveis
incendeia-se o jogo das estrelas novas da guerra.  
como se confundem com as estrelas cintilantes
na lonjura de milénios.
caem mísseis desavindos e um povo esfaimado
delirante e sem relógio para medir o tempo
da espera, adormece. exausto.
a humilhante espera culmina nos dias
embalsamados no sol da planície a abafar
com as farpas de um calor enriquecido. 
incêndios vastos saem das estrelas da guerra
em movimento.
e a dor cresce para além da dor.
e os seres tornam-se simples
fragmentos em busca de destino 
sem vislumbrar um horizonte.
encerrados numa incerteza impiedosa sufocam as lágrimas
suspensas em gritos ensurdecidos até da própria pobreza.
palavras agitam-se insubmissas
sofridas até ao pôr-do-sol de cada dia.
os povos impotentes arrastam-se
aprisionados nas garras da intolerância.
e a tirania das armas arrebata das suas horas
as mínimas réstias de felicidade. 

21/6/2025

                                             Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Breve homenagem



 Teresa Rita Lopes - Imperdível Memória (1937-2025)


Uma grande especialista do enigmático Fernando Pessoa.
Professora universitária de relevo.
Uma memória à sua dádiva de literata cultora
do pormenor cheio de significado.
Uma memória de uma escritora recatada e sensível.
Continuemos as suas lições lendo as suas obras.
Uma presença continuada depois da morte, aos oitenta e sete anos.

PAZ à sua alma

18 de Junho de 2025
Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 18 de junho de 2025

 Ainda o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas nas sábias linhas da obra «Os Lusíadas e a História» da autoria do historiador Jorge Borges de Macedo:

"A 'fala' do Velho do Restelo apresenta-se no Poema para enunciar a única interpretação alternativa possível, na época, em face da Grande Viagem que, pela mão dos Portugueses, abriu à Europa as portas do Índico e que o Poema celebra". (...)
"Não admira que o Poema, síntese arguta e criadora do nacional e do universal, do particular acontecido e do seu significado, junção do real com o metafórico, de modo a que este último possa referir o primeiro sem o eliminar, do histórico com o fantástico, sem afectar a verdade da narrativa, tem sempre irritado os ideólogos lineares, os 'recta-pronuncia' de todos os tempos; já irritou iluministas, cientistas e formalistas, antes de incomodar os dedutivistas dos nossos dias. É normal que isso aconteça com qualquer obra de génio."
"A grande obra, criação sempre única, sujeita evidentemente a condições, recria-se na persistência do seu significado, alcançando força junto de outro público: na nossa sociedade da agonia industrial, qualquer que seja o sistema jurídico em que funcione, continuamos a ler e a admirar «Os Lusíadas» ".
In Jorge Borges de Macedo, «Os Lusíadas e a História», pp. 85 e 260.

Cidade de Calicute, Índia, Atlas "Civitates orbis terrarum"
 (George Braun e
 Franz Hogenber,1572