quinta-feira, 27 de março de 2025

NO DIA MUNDIAL DA ÁRVORE

ALTAR DIVINO



a leveza do fruto tão pequenino

tão cheio de sobriedade

a esconder-se na pinha que o resguarda

com um carinho de mãe. 

sôfrega dos seus filhos multiplica-os nas suas pregas

fortíssimas antes que caiam na terra.

essa mãe está atenta ao seu crescer

lento e manso.

e os pinhões ansiosos soltam-se

do pinheiro em instantes inesperados.

únicos. são filhos de um Deus imenso

de raízes transcendentes e capaz de os dotar 

de liberdade.

num abismo são projetados.

num mundo áspero ficam. a indiferença

é brutal, alheia ao destino dos pinhões.

que delícia se uma criatura os encontra entre

as folhas simples, essas agulhas verdejantes,

a distinguirem-se das folhas de todas as outras árvores.

na paradisíaca planície das areias macias, 

amarelecidas pelo sol ardente 

e poderoso como fantástica muralha

de denso mármore repousa o pinheiro.

oh idílica árvore que o vento verga até à terra

sem a fazer perder o altar divino do seu tronco 

e das suas agulhas de uma idade longa. sem conta.

 21/3/2025

                          Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 21 de março de 2025

RENASCER POÉTICO

A poesia renasce em cada hora que a tocamos.
Parece uma espuma consistente
e, ao mesmo tempo,
é demasiado leve quando a cavalgamos.
Nem o som de uma ventaria que aterroriza, é capaz 
de a despedaçar. E como esse som pode ser o sinal
de que tomba a raiz 
de uma esplêndida figueira secular.

21 de Março, Dia Mundial da Poesia
       
                                      Teresa Ferrer Passos



domingo, 2 de março de 2025

O CANTO DA PAZ  

um mundo em turbilhão sacode as mentes.
bruscamente.
o ânimo e a vontade vacilam.
a sociedade está desavinda.
palavras soltam-se esfomeadas como nunca antes,
comentadores de televisão esgrimem razões
marcadas de esterilidade.
ouço raras palavras lúcidas. sem eco.
o ambiente é todo obscuridade.
a ideia de paz desmorona-se na areia movediça
e cai num abismo mórbido.
como encontrar a paz perguntam alguns?
nos corações não se oculta 
como poderíamos acreditar.
as boas intenções começam
a perder-se de sentido
e os diálogos já não fazem
nascer o pão da espera.
novas discórdias erguem-se com vozes
a atropelarem-se. avança a dureza dos derrotados.
a beleza do bem é adiada. estão encerradas
as portas da paz. a guerra alastra. indiferente.
o nosso ser e a nossa confiança não se tocam.
será que a morte os viu algures?
dormem um sono sem regresso?
ou afastaram-se do mundo por cansaço?
para sempre? alguém o saberá?
...ouço em intervalos breves
o chilreio de um melro a cantar a paz.
cantava a saltitar num jardim da cidade 
habitada por gente arrogante que clamava:
armas, armas precisam-se!
só o som dos tambores da guerra soava
sem sombra de piedade.

2/Março/2025
                                     Teresa Ferrer Passos