terça-feira, 29 de outubro de 2024

O CERCO


O cerco terminou na minha aldeia.
Ela tinha ruas feitas de pântanos que percorri
como um navio sem rumo, sem vela condutora.
Os horizontes
cheios de negra fuligem esvaiam-me
e as palavras tombavam inquietas
onde os gestos hostis deflagravam.
Os fossos de silêncio eram chaminés
exaustas de escombros
que o céu não tocava temendo acordar-me.
 
Acordei na hora em que a enxurrada
procurava sufocar-me mais.
Vi o sol escurecer.
Nesse instante a tua palavra
ecoou como um sol que não quebra
mas inebria, que não rejeita, mas acolhe.
 
E os largos cercos ensopados de secura
que te envolviam também, caíram por terra.
E tu também acordaste.
A vida começava. Na incerteza e na certeza.
A vida imprevisível e fantástica.
Agora, já não era eu ou tu. Agora, éramos nós.
 
29/10/2024
                                   Teresa Ferrer Passos

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixe aqui o seu comentário