sábado, 20 de julho de 2024

UM POEMA


Ribeira de Alcantarilha em tempos idos


NUM DIA DE SOL


                           Lembrando o dia em que nos conhecemos, há 31 anos 


as sombras uivavam nas vitrines.
as porcelanas pareciam pintadas sobre vidas
em que a luz não vibrava mais que uma ondulação.

sentia-me arrastada por uma tarde desenhada pelo sol,
inclemente. a sede escorria dos meus lábios
ressequidos. uma insustentável fragilidade corrompia
os meus pensamentos a esvaziarem-se de sentido.

e eu silenciava uma grande incerteza que pesava
nos meus ombros habituados demais ao desânimo.
 
inesperado um relâmpago acendeu no ar pesado
uma luz estranha, uma luz quase apagada plantava
flores nos meus cabelos feitos terra e mar e vento.

um mundo renascia como se tivesse existido sempre.

afinal era um mundo que eu nunca vira antes
era um mundo com a novidade imensa
daquilo que nunca existiu, nunca foi alguma coisa,
nunca eu conhecera em tempo algum.
 
e eras tu, com a tua claridade branda e luminosa.
eras tu esse relâmpago e eu ainda não sabia ver-te.

20 de Julho de 2024

                                                    Teresa Ferrer Passos

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