JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE/2023, LISBOA
A VERDADE
"Mas a Mim, que vos digo a verdade,
por que motivo Me não acreditais?"
(Jo 8, 45)
Não há verdade, não, sou do reino do húmus,
das folhas secas, do lodo e das turfas que não morrem.
Sou do reino do breve tempo. Aqui, as horas fogem
na ardência do sol com que trilho o húmus carcomido.
Eu não vivo no mundo da verdade. Sou todo
fantasia que pousa nas auroras nascentes
como melódico violino carregado de riquezas.
Eu grito por louvores solenes e vãos, tenho palavras
cheias de furacões que pontificam.
Eu faço vicejar a mentira e tantos acreditam.
Seguem-me como bestas domesticadas
pelo medo e pela fortuna brilhante como o sol.
cheias de furacões que pontificam.
Eu faço vicejar a mentira e tantos acreditam.
Seguem-me como bestas domesticadas
pelo medo e pela fortuna brilhante como o sol.
E penso. A verdade não respira, toda a verdade vacila,
só a mentira ilumina sem ténues brados,
sem falhas ou pudores murchos,
ela é o néctar que me inebria. Sou a mentira finita,
sou a mentira inteira, sem perda alguma
e toda sem memória de promessa. Eu sou o mundo.
só a mentira ilumina sem ténues brados,
sem falhas ou pudores murchos,
ela é o néctar que me inebria. Sou a mentira finita,
sou a mentira inteira, sem perda alguma
e toda sem memória de promessa. Eu sou o mundo.
Sou a mentira, isso sou! Sou simulacro, sou gigante,
sou caruncho a devorar a madeira!
Gosto de sepulcros velhos, de portas fechadas,
de líquenes a lacrimejar nas paredes.
Eu reino aqui entre o húmus. Sou a felicidade a reinar!
sou caruncho a devorar a madeira!
Gosto de sepulcros velhos, de portas fechadas,
de líquenes a lacrimejar nas paredes.
Eu reino aqui entre o húmus. Sou a felicidade a reinar!
Súbito, vejo alguém que desconheço.
Carrega a verdade nos ombros.
Logo pergunto, abismado: "Que vens fazer aqui?!"
"Trago comigo a verdade".
A verdade a chegar?! Que lenta, que dentro de si,
sem uma luz que a ilumine, que diferente
de mim, tenaz e fosforescente,
Carrega a verdade nos ombros.
Logo pergunto, abismado: "Que vens fazer aqui?!"
"Trago comigo a verdade".
A verdade a chegar?! Que lenta, que dentro de si,
sem uma luz que a ilumine, que diferente
de mim, tenaz e fosforescente,
de mim, o famoso Lúcifer!
E não resisto a dizer-lhe.
"Que figura caricata vejo a chegar ao meu reino,
tu nada possuis, não és real, como falas de verdade
se ela, aqui, até nem pode existir?!"
Sem dizer uma palavra, a verdade
passava, continuando o caminho.
E não resisto a dizer-lhe.
"Que figura caricata vejo a chegar ao meu reino,
tu nada possuis, não és real, como falas de verdade
se ela, aqui, até nem pode existir?!"
Sem dizer uma palavra, a verdade
passava, continuando o caminho.
E que verdade seria, com suas asas quebradas,
sem palavras de diamantes vestidas
e com passos tão pequeninos?
Lisboa, 27 de Julho de 2023
Teresa Ferrer Passos