Um poema do livro de Teresa Ferrer Passos, «O Pequeno Lírio da Minha Varanda», Hora de Ler, Leiria, 2020, pág. 39:
CAMAREIRA DA GUINÉ EM NOVA IORQUE
«A manhã era azul na alma da camareira
de um hotel de sete estrelas de Nova Iorque.
Com a humildade no olhar, dobrava os lençóis.
Amarrotados demais, pensava.
Um silêncio cortado por um assobio assustou-a.
Uma sombra negra moveu-se. Olhou para trás.
A sombra era branca como os cabelos. Um abraço
súbito sufocou-a. Não pôde gritar. Esbracejou.
Com uma força desconhecida, libertou-se do corpo
que lhe esmagava já as nádegas e o sexo. Deu um uivo.
Violento. O seu rosto desfigurando-se, aterrorizou o corpo [branco.
A mulher negra da Guiné tropeçou, mas não caiu.
Saiu do quarto. Pegou no telemóvel ao fundo do corredor.
O telefone tocou na esquadra da polícia
da décima terceira avenida de Nova Iorque.
“Um corpo branco tentou possuir a minha alma branca”
disse, com a garganta enrouquecida de susto.»
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