o tempo de uma folha não tem memória.
nas raízes a saírem das árvores
tombadas entre os tempos
mortos de tanta espera, vejo o fundo.
tudo se mostra efémero e velho
como se fosse uma folha enrugada e seca.
há uma chuva ácida que alaga os rios
e eu procuro a sede infinita que já os define
na sombra das folhas a soltarem-se.
o que espero do outono do mundo?
o silêncio escrito nas folhas ressequidas.
Sinto que o tempo calou-se de súbito
e não sei se para sempre
29/9/2019
Teresa Ferrer Passos
* * *
A morte é um destino que devemos defrontar com a naturalidade das árvores que podem durar muitos anos, das folhas que morrem todos os anos. Olhar as folhas tão frágeis e tão inteiras enquanto existem, mesmo depois de se enrugarem e caírem e serem pisadas pelos nossos pés e arrastadas em fragmentos até ao nada... Como a natureza nos ensina a olhar a morte sem a rejeitar, antes a pensando como um bem que surge precisamente, quando a nossa presença aqui terminou.
1 de Outubro de 2019
T.F.P.