O movimento restaurador da independência
nacional levado a cabo com pleno êxito na manhã de 1 de Dezembro de 1640, não
constitui exclusivamente um momento de exaltação patriótica contrário à usurpação
da Coroa portuguesa pela castelhana. É um facto que, após o malogro das
intervenções aguerridas de D. António, Prior do Crato, os portugueses aceitaram
a situação político-institucional a que tinham chegado por negligência, por
inércia ou por abdicação. Contudo, à medida que os anos decorriam, a submissão
ao país vizinho começou a ter largos custos porque as potências inimigas de
Castela atacavam o nosso disperso e vasto Império ultramarino.
Os ataques aos nossos galeões quando estes
se deslocavam da Índia para Lisboa, os assaltos às fortalezas onde
permanecíamos desde o dealbar do séc. XVI, no Brasil e no Oriente, reduziram
para um terço o tráfico com Lisboa, porquanto as especiarias, o ouro e muitos
outros produtos dessa rota, eram transportados pelas bem apetrechadas
embarcações inglesas, holandesas e francesas. O decréscimo das receitas
oriundas do Brasil, de Angola, da Guiné ou de Goa atingiam os interesses da
Coroa, da nobreza, da burguesia comercial, do clero nacionais, Os escravos, o
açúcar, o tabaco já não constituíam as grandes fontes de riqueza detidas até
aos primeiros anos do séc. XVII.
Entre 1620 e 1630, a situação agravou-se com
as perseguições movidas pelos espanhóis e pela Inquisição contra os portugueses
estabelecidos no México e no Perú. Com o pretexto de prática de judaísmo, a
comunidade portuguesa no Perú foi praticamente dizimada no ano de 1635.
A investida contra as zonas dominadas por
Portugal repercutia-se na situação económica nacional. Sem produzir os bens de
consumo indispensáveis, não chegando ao reino as matérias-primas com que se
saldariam as contas contraídas com o exterior, o país era sobrecarregado por
impostos exorbitantes. Sem uma frota eficiente, com os soldados dispersos pelas
frentes de combate de maior interesse para Castela, não auferindo os grupos
sociais empenhados nas rendosas tarefas comerciais-marítimas, os lucros
provenientes das suas actividades atlânticas e no Índico, gerou-se uma
ambiência de descontentamento, a que não foram alheias as categorias populares
gravosamente atingidas pelo declínio do seu poder de compra e pelas provocantes
arbitrariedades governativas de Castela.
A crise financeira, eclodindo a partir da
década de 1620, era simultânea à derrocada da presença portuguesa no Oriente,
em África, no Brasil: em 1622, Ormuz foi tomada pelos persas; Goa foi bloqueada
por uma força anglo-holandesa, em 1623; o rei de Achém atacou, em 1629, Malaca.
O próprio comércio com o Japão foi cerceado. Entre 1637 e 1638, os entrepostos
africanos de S. Jorge da Mina e Arguim foram assaltados pelos holandeses, que
no Brasil tinham já tomado as cidades de Olinda e Recife, no ano de 1630.
O desmoronamento dos domínios além-mar
reflectia-se na vida de todos os portugueses sem excepção. Intérpretes do
sentimento de frustração que a Nação vivenciava, um grupo de nobres e letrados
desencadeou, sob a chefia do Duque D. João de Bragança, a insurreição que iria
dar a Portugal a dignidade perdida após a fatídica aventura de Alcácer-Quibir.
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