quinta-feira, 20 de julho de 2017

No princípio de nós


Cafetaria da Fundação Calouste Gulbenkian


do princípio de nós ou da beleza


numa chávena de café estremecem os teus dedos
convexos demais. Num espaço irreal
descubro grãos negros. Vejo incêndios
perpetuados em água. Vulcões negros soltam-se.

véus de nuvens densas mostram um cérebro
a escorrer seivas brancas. E os sentimentos
não transparecem. Tudo é baço, estranho talvez.

olho o café como se visse uma laranja doce.
Um encontro marcado e inclemente? Vejo o nada.
Onde estás? Pergunto.
E, tu, levantas o olhar turvo,
de súbito, para mim.

20 de Julho de 2017 (24º aniversário do nosso primeiro encontro na Cafeteria da Fundação Calouste Gulbenkian)
                                                        
                           Teresa Ferrer Passos






O LIVRO VERDE DO AMOR

Encontrámo-nos numa biblioteca
No centro de um jardim
E os livros da larga biblioteca
Escutaram com atenção minuciosa
As primeiras palavras que trocámos
E contaram-nas aos cisnes e aos peixes
E aos pardais, às joaninhas e aos melros
Que as foram repetindo sem descanso
Até elas ficarem imprimidas
No sussurrar da brisa na folhagem
E no bater do coração das árvores
E no tremer das águas nos riachos
Como as palavras de um livro transparente
Que nós ouvimos a cada regressar
À biblioteca no meio do jardim.

20 de Julho de 2017

                     Fernando Henrique de Passos

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