interminável ritual?
vejo ao longe gigantes em chamas
ou páginas de livros por escrever?
não! são apenas árvores doridas de cansaço e vertigem.
mulheres com baldes de água tirada de um poço correm,
e ouço a sua voz quase inaudível a dizer
que estão isoladas do mundo, lá, num além sem vivos.
ninguém, ninguém! pronunciam a custo
entre as nuvens de fagulhas da cinza,
entre borregos e ovelhas a tresmalharem-se, sem guia,
que fogem das fogueiras rasteiras à terra
e rentes ao céu, oh que altura!
vejo o avanço das chamas com a rapidez
misteriosa de um vento agreste
que parece procurar ainda folhas frescas
e carne fresca que não come, mas devora
com sofreguidão.
Vejo ao longe um desespero pálido
a invadir as almas aprisionadas
no ar sufocante daquela visão infernal a entoar
gritos de medo e sem uma lágrima.
as lágrimas secaram depressa demais! o calor intenso sufoca!
vejo os corpos prostrados de luta e mágoa;
já perderam a força capaz de vencer a morte
e enrolam-se com as mãos a parecerem
folhas abafadas pelo fogo e pelo fumo.
vejo as casas das aldeias perdendo os telhados
e as fotografias guardadas para sempre,
tornam-se um papel negro em que não está ninguém.
Vejo que os troncos revestidos de negro,
continuam firmes na sua grandiosidade.
esperam ainda a frescura outonal?
e uma brisa suave ainda chegará a tempo
de os ressuscitar e devolver à vida?
24/9/2024
Teresa Ferrer Passos
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