domingo, 4 de agosto de 2024

UM POEMA

HUMANA ILUSÃO  
   


quando o tempo passa sobre as folhas dos altos plátanos
da minha rua, o seu verde intenso perde-se e não volta.
a cor infringe a cor da relva,
mais verde que a esperança.
um avatar cobre-as de um amarelo frouxo,
perdido do sonho de ser eternidade.
incapazes de entender, pois entendimento não têm,
tornam-se um cavalo a romper o bosque denso.
 
cada folha de tom amarelo-baço
solta-se dos ramos e o vento lesto,
eleva-as como brinquedos
nas mãos de uma criança que o mundo
ainda desconhece.
 
ouço pela janela entreaberta o vento a uivar.
a força estonteia-o. de que poder dispõe?
vejo pela janela entreaberta os ramos contorcidos
e as folhas a soltarem-se.
impotentes rolam pela rua como se fossem
apenas um pouco nada, um impossível ainda a ser,
e são apenas um não-ser que espera ser.
 
olho a vida breve das folhas feitas
de avatares nem sonhados.
como se desvaneceu o brilho intenso das folhas?
perdeu-se apesar de assentes em magníficas árvores
de raízes fundíssimas. poderosas. imponentes.
 
agora, toco a certeza de que tudo vive envolto
em incerteza, nada se renova,
nada se perpetua, nada se fortifica.
esta a única verdade que nos dá a vida.
e resvalamos para o gosto da perpetuidade.
 
vivemos à espera da mudança grandiosa e dos louvores.
oh grande ilusão esperar poder subir mais alto,
sempre mais e mais, sem ver quanto tudo é precário.
oh perdição, oh vanitas, oh coisa vã, insana,
oh vão desejo, oh grande engano deste mundo.
deste mundo em que tudo é passageiro.  
 
4/Agosto/2024
                                                     Teresa Ferrer Passos 

 

 

                                                             

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