quarta-feira, 10 de abril de 2024

NAS MÃOS ESCREVO

nas mãos escrevo a poesia dos meus dias
envolvidos em sonho e chuva e sol  
e a derreter um secreto mel de rosmaninho.

nas mãos escrevo as iras largas a arrasar os mansos
e incapazes de abrir as suas para escrever
com as portas bem abertas escancaradas

nas mãos escrevo sem alicerces nem muros fortes
como se o abandono fosse a minha casa
o ninho por onde passam os viajantes perdidos e sem bússola.

nas mãos escrevo sob o peso dos gritos desavindos
que me perturbam e agitam e desfazem o futuro
a naufragar em socalcos de marés sem rumo

nas mãos escrevo as linhas incertas de cada dia
como se fossem capazes de demover o tempo
e de um outro tempo fazer nascer

nas mãos escrevo a incoerência de quem quer a liberdade
                                                                            [só para si
e acende palavras inclementes ululantes
que condenam aquele que se levanta com uma voz diferente

porque a liberdade de discordar ainda não morreu
nas mãos escrevo 

10/4/2024
                                               Teresa Ferrer Passos

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