nas mãos escrevo a poesia dos meus dias
envolvidos em sonho e chuva e sol
e a derreter um secreto mel de rosmaninho.
envolvidos em sonho e chuva e sol
e a derreter um secreto mel de rosmaninho.
nas mãos escrevo as iras largas a arrasar os mansos
e incapazes de abrir as suas para escrever
com as portas bem abertas escancaradas
nas mãos escrevo sem alicerces nem muros fortes
como se o abandono fosse a minha casa
o ninho por onde passam os viajantes perdidos e sem bússola.
nas mãos escrevo sob o peso dos gritos desavindos
que me perturbam e agitam e desfazem o futuro
a naufragar em socalcos de marés sem rumo
nas mãos escrevo as linhas incertas de cada dia
como se fossem capazes de demover o tempo
e de um outro tempo fazer nascer
nas mãos escrevo a incoerência de quem quer a liberdade
[só para si
e acende palavras inclementes ululantes
que condenam aquele que se levanta com uma voz diferente
porque a liberdade de discordar ainda não morreu
nas mãos escrevo
10/4/2024
Teresa Ferrer Passos
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