O PRIMEIRO PRESÉPIO:
«Este ano celebramos os 800 anos do Presépio criado pela primeira vez por São Francisco de Assis. Como é bom construir o presépio em família e recriar a atmosfera que São Francisco quis experimentar: a pobreza em que nasceu o Menino Jesus, a humildade e confiança de Maria e de José, o amor e a paz que emanavam da gruta de Belém».
BILHETINHO DE NATAL
Querido
Menino Jesus
Tenho de te pedir desculpa pois este ano, ao contrário do meu hábito, não vou ter uma poesia pronta para te oferecer no dia do teu Aniversário. O meu trabalho solitário tirou-me toda a disponibilidade para a poesia, e neste caso isso significa que me tirou toda a disponibilidade para ti, o que é muito mais grave. Avalias como é grande a minha ingratidão? Não, não avalias, eu sei. Porque tu és bom, porque tu és a própria Bondade, e já me tinhas perdoado antes mesmo de eu saber que este ano não escreveria a habitual poesia para te oferecer. Neste momento já nem te lembrarias disso se não se desse o caso de ser eu recordar-to. Mas eu, sim, eu avalio a minha própria ingratidão, por saber que te devo tudo, e que tudo o que te oferecesse seria pouco para saldar tão grande dívida. Devo-te esta vida e a promessa da vida que há de vir e a esperança de a poder vir a alcançar, para o que me basta seguir a tua lição tão simples: pensar menos em mim e mais nos outros. Mas que digo eu? A tua lição é simples, na verdade, mas nem assim eu consigo segui-la, e neste Natal deixei-me outra vez fechar sobre mim próprio. Mas agora reparo: que importância pode ter para ti o meu fechamento quando vês o mundo inteiro em convulsões de morte?! Por falar nisso, falta muito para o teu regresso à Terra, que nos prometeste há quase dois mil anos? Cada vez nos fazes mais falta, meu Menino! Este planeta está preso por um fio! Mas não te quero cansar mais. Bem hajas pela tua primeira vinda, cujo alento ainda hoje se faz sentir, ajudando-nos a conseguir ir sempre em frente. Quanto à segunda vinda, a definitiva, só tu e o teu Pai sabem qual a altura propícia para ela.
Aceita um grande abraço deste teu amigo,
«Então Herodes ficou muito irado e mandou matartodos os meninos de Belém e de todo o seu território,da idade de dois anos para baixo»Mateus 2,17
de Gaza. Hoje. Porque o tempo parou em Herodes
da Judeia. Ontem. Parou nos seus sofismas de morte.
Hoje ou ontem, Herodes dá ordem para matar
como se fosse uma ordem para viver. O tempo passa
assim igual à crueldade, à indiferença.
E os Herodes ressurgem com outros nomes
num tempo a recusar estar para além dos Herodes
e de todos os seus seguidores.
Os novos Herodes ignoram a vida das crianças.
Imperturbáveis no delírio em que vivem,
nem sonham como se enganam.
Não veem os braços alquebrados
das mães sufocadas de lágrimas, nem
o choro dos pequeninos os alerta.
E o tempo novo vai ressuscitando
os Herodes que duvidam da própria morte
ao alcançarem os seus intuitos miseráveis.
São os dias carregados de impureza.
Os dias ensombrados e sem luz.
Os dias erguidos no altíssimo altar
de um outro Herodes ainda
mais ávido de sangue.
Mesmo que seja sangue
de inocentes a traçar
a escuridão na luz.
Natal de 2023
Teresa Ferrer Passos
*
"Ouviu-se uma voz em Ramá,uma lamentação e um grande pranto:É Raquel que chora os seus filhosporque já não existem"»Mateus 2, 18
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