quinta-feira, 30 de junho de 2022

O batismo, a água e a conversão

Capela com a antiga pia batismal ou batistério, na igreja matriz, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, em Alcantarilha.


Antecipando-se a Jesus, João Batista já contemplava com o batismo da conversão pelo arrependimento, não só os judeus mas igualmente os gentios. O seu batismo ainda não era no Espírito Santo, como seria o Batismo depois de Jesus. Era apenas na água. João já nele quer incluir os gentios. Não os hostilizava, antes os chamava à conversão. A sua voz clamou no deserto até ser preso e encerrado num cárcere. Poucos meses depois, seria condenado à morte.

T.F.P.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

 NA NOITE DE S. JOÃO


UM POEMA DE FERNANDO HENRIQUE DE PASSOS que nos lembra a grande missão de S. João Batista: o BATISMO, essa "água fresca que vem do fundo do abismo" e que ecoa nos corações que se deixam bafejar pelo "sabor do sal" que purifica, que traz a memória de um "óleo sobre a pele" e oferece ao ser "os ecos do abismo":

OS ECOS DO ABISMO

O cheiro a água fresca que vem do fundo do abismo
Envolto em reflexos de cores desconhecidas
E sons silenciosos como agulhas
(Prata caindo no veludo negro)
E o sabor do sal, da terra e das sementes
E sentir o óleo sobre a pele
Como memória nova de um batismo
… nova de um batismo …
… nova de um batismo …
… nova de um batismo …

(o eco no fundo do abismo)

Fernando Henrique de Passos, «Bazar Persa», Leiria, Hora de Ler, 2022, pág. 51.


Pia batismal da Igreja Matriz
de Alcantarilha

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Um Poema do livro BASAR PERSA (Hora de Ler, 2022, p.33) de Fernando Henrique de Passos:

  

Falésias da praia de 
Olhos d'Água

OS OLHOS DA MIRAGEM II


De olhos assustados, a miragem
Procurou em vão no nevoeiro
Uma passagem,
Um letreiro.
Longe das dunas, do areal,
Das rochas rachadas pelo sol a pino,
Maldisse a época outonal
E o plúmbeo céu londrino.
Julgou ver um louco que a olhava
E o louco julgou também que a via.
Era então ele que a chamava
Desde o princípio desse dia…
As pessoas passavam a correr.
Se não fossem assim tão apressadas
Teriam talvez visto o nascer
Daquele amor entre dois nadas…

                             Fernando Henrique de Passos

sábado, 11 de junho de 2022

Um poema de Fernando Henrique de Passos do livro intitulado BAZAR PERSA acabado de publicar (Hora de Ler, Leiria, 2022, p.10)

 


A CETINOSA SENSIBILIDADE DOS INSETOS
As patas pequenas, enceradas,
Velam pela correcção da luz,
Pelo desagravo das leis enxovalhadas,
Pela rectidão do caminho que conduz
Às verdes águas deslumbradas.
O lento tecer da ordem fina
Prevalece sobre o caos de antigamente.
Brilham carapaças na neblina
Que esbate ao de leve o sol poente
E orvalha a folhagem da bonina.
Pontos cintilantes e antenas
Tacteiam o musgo nos umbrais
Das portas abertas aos poemas
Que escrevem os pequenos animais
De patas felpudas e pequenas.
Fernando Henrique de Passos


Da realidade, Fernando Henrique de Passos desce, neste conjunto de poemas, ao submerso que é a surrealidade do mundo, deste mundo por desvendar e que flutua quase impercetível na sua passagem por dentro de nós.
11/Junho/2022, Facebook
                                                                            Teresa Ferrer Passos

Teresa, dizes bem, a surrealidade não é uma invenção, é um "mundo por desvendar e que flutua quase impercetível na sua passagem por dentro de nós". O que em Portugal se traduz por surrealidade, devia na verdade traduzir-se por sobrerrealidade, porque era isso que queriam dizer os fundadores do surrealismo: a realidade que eles se propunham explorar era para eles superior à realidade da nossa experiência quotidiana.
11/Junho/2022, Facebook
Fernando Henrique de Passos