quinta-feira, 20 de maio de 2021

MEMÓRIA do Poeta Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)

 


Nasceu em Lisboa a 19 de Maio de 1890.

Lembro alguns dos seus versos cobertos de uma grandeza e de uma angústia inapagáveis, versos a saberem ao sal da desdita e a romperem em oceanos do génio, versos que rindo de si próprios se abrasavam numa alma ímpar de humildade.


Recordo o poema «Nossa Senhora de Paris»:

"Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me e eu fujo também ao luar...
Um cheiro a maresia
Vem-me refrescar,
Longínqua melodia
Toda saudosa a Mar...
Mirtos e tamarindos
Odoram a lonjura;
Resvalam sonhos lindos...
Mas o Oiro não perdura
E a noite cresce agora a desabar catedrais...
Fico sepulto sob sírios,
Escureço-me em delírios
Mas ressurjo de Ideais...
Os meus sentidos a escoarem-se...
Altares e velas...
Orgulho... Estrelas...
Vitrais! Vitrais!
Flores de Lis...
Manchas de cor a ogivarem-se...
As grandes naves a sangrarem-se...
- Nossa Senhora de Paris!..."

Paris, 1913 - Junho 15

***

ONTEM FEZ ANOS QUE NASCEU MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

"Já não falo para ser ouvido. Não grito para que me oiças. Quem me ouviria, quem? Tu já me sabes de cor. E não há ninguém no mundo senão tu e eu. Ninguém na terra, ninguém no céu, ninguém no universo. Só eu e tu, que nem precisas ouvir-me. Para quê, se me tens na mão? Só tu e eu, que não posso suportar-te: demasiado grande para mim, demasiado belo! Tu que não me poupas, eu que não te poupo... Deus éramos tu e eu, por que fomos separados? Por que atiraram ao chão o Esfinge Gorda, como um trapo que se deita fora, e ao mesmo tempo me deixaram lá em Cima...?"
Excerto da peça de teatro de José Régio, "Mário ou Eu Próprio - o Outro".

Postagem no Facebook de Fernando Henrique de Passos (20/5/2021)

Comentário no Facebook:

Uma peça de teatro de José Régio a retratar de modo exemplar o Poeta Mário de Sá Carneiro, ele próprio dividido entre o corpo e o ser, dividido entre ele e a alma-irmã, entre ele e Deus. Mário de Sá-Carneiro, ele próprio também autor de peças de teatro hoje esquecidas e escritas na adolescência, a prometer um grande dramaturgo que não se deixou chegar ao fim, mas antes foi o autor do seu fim, tão jovem.

Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 12 de maio de 2021

MAIO, 13


Nossa Senhora de Fátima, 
uma escultura de António Teixeira Lopes,
datada de 1931.


 A primeira Aparição de MARIA em Fátima


Uma passagem da obra Stabat Mater. Contribuição para o Estudo de Maria de Teresa Ferrer Passos:

"A Virgem, diz Lúcia nas suas 'Memórias', foi vista por ela, não como uma imagem interior, puramente mental ou subjetiva, mas como uma pessoa real, objetiva, percecionada pelos seus olhos. Lúcia vê. Escreve Lúcia, numa nota íntima escrita em 13 de Janeiro de 1944: 'Não foi uma aparição, foi uma presença'.

A 'presença' é uma palavra mais forte, talvez a mais forte, para não nos inclinarmos para a tese da Visão, mas para a da Aparição de Maria. Por isso, Lúcia aceita ser a humilde serva incumbida de dar a conhecer a sua presença no mundo.

Como S. Luís Maria de Montfort já sustentava, Maria combaterá Satã, em especial, nos últimos tempos, com os 'seus humildes servos, os filhos que ela suscitará para fazerem guerra ao demónio'. Acrescentando: 'Jesus Cristo é o fim último da devoção à Santíssima Virgem'. O Filho é o princípio e é o fim da devoção à Mãe." («Obra citada», págs 168-169)


terça-feira, 11 de maio de 2021

MAIO: mês de MARIA


Escultura de "Nossa Senhora e o Menino"
de Euclides Vaz na capela do colégio
de S. João de Brito, em Lisboa.

Acerca da interpretação psicanalítica de E. Drewermann e das Aparições da Virgem Maria

«O autor de La Parole qui Guérit (1991) insiste no significado das camadas profundas da mente humana no caso de aparições. Sustenta assim, como critério de verdade e de análise de aparições, a existência de fenómenos de natureza psiquiátrica. Nessa linha psicanalítica, afirma ainda que, "não há literatura poética que não o manifeste: uma história inventada pode ser mais 'real' e mais autêntica que a história factual, porque só a história sonhada, poetisada, permite ao leitor de outra geração, reviver por si o acontecimento passado, sonhando-o, vibrando de compaixão e de esperança". Oferece, depois, como exemplo das narrativas religiosas, os mitos. Ora, o mito não passa pelas Aparições de Maria em Fátima. Ao longo desta abordagem das Aparições na Cova de Iria, este ponto de vista não nos parece, em consonância e, muito menos, aplicável, a estes acontecimentos sobrenaturais.
Igualmente contestável é o facto de o autor entender que uma história inventada num enquadramento literário, pode ser mais real e mais autêntica que a história factual. Esquece que, se a história é inventada, essa história nunca existiu antes (como arquétipo na mente do seu autor), nunca existiu tal como o autor a inventou ao modificar o real, tanto mais modificado quanto maior é a sua capacidade criativa ou o seu objetivo.»

Teresa Ferrer Passos, Stabat Mater. Contribuição para o Estudo de Maria, Hora de Ler, Leiria, 2020, pág. 151.