domingo, 21 de março de 2021

DOSSIER

 PÁSCOA / 2021


Jesus Cristo:
Vitral  da igreja de S. João Batista,
em Ashfield, Nova Gales do Sul, Austrália.
Autoria de Alfred Handel (1931-2009)




«Eu e o Pai somos um»

                                                  Jo 10, 30


«Eu sou o Caminho, a Verdade  e a Vida.»

                                                                            Jo 14, 6


«Olhai para os lírios do campo, como eles crescem. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.»


                                                                                    Mt 6, 28


Pequeno campo. na Semana Santa (Páscoa/2021) 
junto à Estrada do Calhariz de Benfica, em Lisboa


POEMAS NA PÁSCOA 

                     de Fernando Henrique de Passos



LITURGIA DO SILÊNCIO


Senhor, na Tua Páscoa

desceste ao fundo mais fundo do silêncio

e regressaste com a partícula de nada

que salvará o mundo.

 

30/3/2021



A PÁSCOA ENTRE AS FLORES

 

Morri na Páscoa,

Morri em plena Primavera.

 

As flores cercaram-me,

Pegaram-me na mão,

Despiram-me do Eu.

 

Quando ressuscitei

Era de novo Deus.

 

21/3/2021

                      

Comentário:

Partindo da ideia de que o Eu de Jesus é Deus, Fernando Henrique de Passos constrói uma belíssima metáfora, chegando a fazer contracenar a real crueldade dos soldados romanos, com a fantasia da bondade das flores. Assim, diz o Poeta: "As flores cercaram-me, / Pegaram-me na mão, / Despiram-me do Eu."
Teresa Ferrer Passos in Facebook



Altar alusivo à Páscoa
na nossa casa

 

POEMAS NA PÁSCOA

                               de Teresa Ferrer Passos


A Palavra de Jesus é a Palavra do Pai,

é a palavra de Deus

na sua santíssima incarnação.


                  

AS MÃOS DE JESUS

  

Não estavas cá… se tivesses estado,

Lázaro não morreria, exclama Maria.

“O meu amigo morreu?!”, diz Jesus.

Jaz no sepulcro há já três dias.

“Vou ter com ele e com as minhas mãos,

viverá”.

Que poder tens nas tuas mãos?

Não respondeu e saiu da casa.

Seguiu-o Maria, à distância.

Jesus entrava no sepulcro.

Maria ficou à porta. Incrédula,

viu as suas mãos apertarem

os braços de Lázaro, como se o abraçasse.

Em silêncio, Jesus erguia-o vivo, vivo de novo.

Maria chora e ri de alegria:

Lázaro, pelo seu pé, redivivo,

abraça-a ao sair do sepulcro.


Nem Lázaro nem Maria, viam Jesus.

Um grande silêncio pairou à volta deles.

Experimentavam, agora, a sua  ausência dolorosa.

 

30/3/2021

                                    

DIVINAS


As flores irrompem nos montes,
irreprimíveis,
impetuosas,
determinadas.
Querem rumar ao azul? Ou à luz? Ou ao mundo?...
Não sabem bem. Só sabem que nasceram
para mostrar o que é amar
sem razões, sem objetivos.

19/3/2021

RENASCEM OS LÍRIOS DA TERRA



Os lírios na intensidade do seu branco
ostentam a pureza. Vem-lhes da terra.
E se oscilam com o vento dos lugares, 
sabem suportar o abalo com as pétalas
arqueadas, como a recebê-lo com um abraço.
Os lírios são como pequenas casas
caiadas com contornos amarelos
em torno das portas e das janelas,
na procura da alegria escondida nas trevas,
nos mares e nas grutas dos rochedos.  
Os lírios restauram o pó e transformam a água  
em veludos levíssimos sem sombra de rudeza.
Sobem para o azul sem perderem
a verdade da sua realidade,
nem a beleza breve e infinita. 
Os lírios mirram devagar   
como se recebessem uma bênção inesperada, 
uma estrela caída e a brilhar, 
quase a ser toda a luz do universo.
Num dia, entreabrem as pétalas
para toda a vida;
num outro, tão próximo deste,
toda a vida se esvai.
Mesmo assim, os lírios diriam:
valeria a pena a vida,
mesmo que fosse um só dia.

18/Março/2021
                                            

VAZIO

 

O mistério da terra:
nua, em torrões, seca, imóvel, nas trevas.
E dela surge e ressurge a vida!


O sepulcro ficou vazio.

"Onde estás, Jesus?"

Não aqui, não aqui, disse a mulher.

"Ressuscitou, como disse?!"

Ele o anunciou dias antes de morrer,

na cruz, num monte triste.

"Para onde foi?"

Eu não sou daqui, dissera.

Para o Seu reino terá ido

numa nuvem branca

a desvanecer-se no vago azul.

"Mas o Seu reino ninguém o conhece!"

Não, ninguém o conhece. Por enquanto.


16/3/2021

E as flores ressuscitaram
nesta Páscoa, de novo,
 a imitar Jesus...





segunda-feira, 15 de março de 2021

Passagens de... «STABAT MATER» (7)

Imagem de Nossa Senhora do Rosário na igreja matriz de Fátima "velha", de autor desconhecido (século XVI). Aí foram batizados os três pastorinhos e Lúcia contemplou-a, como nos diz nas suas "Memórias".


Fátima, 1917

O Acontecimento

O Sentido das Aparições:

" «Fazei bem aos que vos odeiam», diz Jesus. Esta frase ressurge com Maria nas Aparições de Fátima: obedecei à vontade do meu Filho, ofendido pela descrença na Sua pessoa divina e, mesmo assim, pronto a perdoar aqueles que se converterem.
«Continuem a rezar o terço para obter a paz no mundo e o fim da guerra», alerta Maria. O espectro da guerra, com todas as suas irremediáveis consequências, é a expressão viva do inferno a que se refere Nossa Senhora. Por isso, Maria está aqui para repetir, incansavelmente, como há dois mil anos: «Fazei o que Ele vos disser».
Na 3.ª Aparição, a visão do inferno, as imagens de um fogo castigador, poderão ter como objetivo maior, mostrar quanto o Céu está longe da Terra, e, parece mesmo, nos nossos dias, cada vez mais longe".

Teresa Ferrer Passos, Stabat Mater. Contribuição para o Estudo de Maria, Hora de Ler, Leiria, 2020, pág.144.

sábado, 6 de março de 2021

POEMA INÉDITO:



FRAGILIDADE DE TEMPO

                  "Em memória de todos os que morreram,
                    vítimas da pandemia de Covid 19"

Nas ravinas, ao abandono,
papoilas vivem sorrindo,
à espera de um olhar, mesmo
só de uma criança...
Mas onde estão as crianças, para as acariciar?
A tristeza, mesmo assim, parece não entrar nelas.
Balançam com o vento firme, como se fossem cair.
Porém, o caule de seiva fina é suporte que não
as deixa quebrar. Sustenta antes
as pétalas para as poder preservar.
No seu corpo tão precário, tão sem tempo,
prosperam com humildade. Até que, um dia,
uma pomba sôfrega as sorve e esfarela.
Corta-lhes o caule da vida.
As pétalas tombam por terra...
Eis a morte que chega.
E as papoilas pereceram
sem vontade de durar.
   
5/Março/2021
                                    Teresa Ferrer Passos