Excerto do conto "Primeiro Dia de Férias no ano de 2127", in Teresa Ferrer Passos, «O Grão de Areia» (Contos), Universitária Editora, Lisboa, 1996, pp. 48-49:
«Desanimado, António não se conteve por mais tempo:
- Não percebo, nesta viagem não há estradas nem montes nem as casinhas dos vales e das aldeias, como é costume nas viagens que fazemos com o papá...
- Nem verás! Não te lembras de o papá dizer que esta viagem seria diferente de todas as outras que temos feito? É uma viagem para a Lua, aquela pequena esfera que, às vezes, espreitas da janela do teu quarto e que tu achas muito estranha porque nem sempre tem a mesma forma e o seu brilho é tão intenso que até parece uma estrela muito maior do que as outras. - disse Joana, contente por dar uma lição ao irmão.
- A mim, o papá só me disse que esta viagem ia ser diferente e que eu gostaria muito respondeu António, decepcionado por o pai ter dado mais pormenores à irmã do que a ele.
- Foi para te fazer surpresa - disse Joana rindo. E fingia não perceber as lágrimas a engrossarem nos grandes olhos azuis do António. Depois exclamou, já esquecida das lágrimas do irmão:
- Não há sequer uma ave no céu! Mas será que há céu?! Daqui não se vê senão uma grande escuridão.
- Não... e na Terra há tantas coisas. Aqui é tudo tão triste... Porquê?! interrogou o garoto, olhando a irmã, como à espera de uma qualquer explicação que o pai lhe tivesse dado a ela, quando ele não estava presente.»